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Bad Santa 2
Título Português: Um Pai Natal Para Esquecer | Ano: 2016 | Duração: 92m | Género: Comédia
País: EUA | Realizador: Mark Waters | Elenco: Billy Bob Thornton, Kathy Bates, Tony Cox, Christina Hendricks

Treze anos depois do primeiro filme, Billy Bob Thornton volta a encarnar Willie Soke, um alcoólico criminoso e amoral, com tendências suicidas, que passa os dias a pensar no próximo esquema para arranjar dinheiro e a falhar redondamente em todos os trabalhos que ocasionalmente surgem. É depois de uma tentativa de suicídio falhada que é contactado por Marcus, o comparsa anão do filme anterior, que lhe propõe um negócio demasiado aliciante para recusar, mesmo que isso signifique aliar-se a quem já o traiu no passado. Ele vai ter de voltar a vestir o fato de pai natal para tentar assaltar uma instituição de caridade onde a mãe já está infiltrada, pelo caminho ainda vai ter de lidar com o filho da mulher que conquistou no filme anterior e um grupo de personagens completamente inconsequentes para a história, mas que ajudam a conseguir a hora e meia de duração.

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Por incrível que pareça há maneira de gostar e odiar este filme, a minha tendência recai na segunda leitura, mas é impossível dissociar-me da experiência que é ver esta comédia alarve numa sala moderadamente cheia. Mal o filme começa e somos apresentados ao título original, há um grupo à minha frente que fica manifesta e audivelmente  confuso – “É o 2? Nem sequer sabia que já havia um. Tu sabias? E tu?”. Tudo questões que ouvi melhor na fila imediatamente a seguir à minha mas que o burburinho denunciava ser uma confusão generalizada. O que se segue no ecrã é uma catadupa de piadas cirurgicamente pensadas para chocar independentemente do valor humorístico, um bloco de cimento que funciona como um compêndio de tiradas escatológicas retiradas de uma casa de banho perdida nas traseiras de um matadouro. Não tenho problema absolutamente nenhum com gargalhadas à custa de flatulência ou outro tipo de infantilidade adolescente, na verdade sou grande fã de todo o universo criado por Judd Apatow, mas em todos esses filmes há uma história que merece ser contada, nem que seja pelos pontos de contacto que as personagens criadas têm com o público e que aqui são inexistentes.

Mas as reacções fazem sentir-se por toda a sala – “Que filme é este?” – “O que é que me trouxeste a ver?” – “Que nojo!”. Estas são citações de quem se está a divertir com o filme, não com sorrisos, mas com o entusiasmo de quem está num concerto de metal a levar com cotoveladas e a pedir mais porque ainda consegue ver de um olho. É de partir o coração quando um dos filmes de Natal mais acarinhados da última década se transforma numa comédia desprovida da alma que nos cativou em 2003. O primeiro filme falava-nos do desencanto com a época festiva que retratava, atirava-nos com uma dose doentia de pragmatismo para depois nos enternecer, não em demasia, mas o suficiente para levarmos daquela experiência o sorriso que precisávamos. Deste filme retiramos um conjunto de sketches protagonizados por personagens sem redenção e que torna toda a trama inconsequente.

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Billy Bob Thornton está simplesmente a cumprir calendário, aliás, não há ninguém particularmente notável ou digno de destaque, pelo menos um destaque positivo. É incrivelmente difícil ver Christina Hendricks a ser superlativamente objectificada no papel da coordenadora do centro de caridade. Não há razão absolutamente nenhuma para terem escolhido uma actriz que já deu provas de mérito em trabalhos como Mad MenDrive ou Lost River, para passar dois terços da sua prestação a levar trancadas da personagem principal e o outro terço a ser alvo de comentários acerca do seu aspecto voluptuoso. Kathy Bates é igual a si mesma nos últimos anos, a interpretar uma velha amarga com tatuagens, um cliché que quer passar por subversão inteligente mas que já foi tão explorado que não surpreende e só serve para revirar os olhos em descrença.

Há um público para este género de produto, mas isso não justifica que tenham de tocar no legado de um filme de culto com 13 anos para nos apresentar uma comédia banal e desprovida de outra intenção que não seja ganhar dinheiro, o que torna tudo ainda mais irónico tendo em conta a história que deu origem a este franchise. Na sala de cinema falavam alto, consultavam o Facebook, davam palmadas nas costas quando adivinhavam o que as personagens íam dizer e saíam a meio para comprar pipocas.


sobre o autor

Jose Santiago

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