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Vou tentar resumir esta história para terem uma noção da força de vontade e da tenacidade necessária para fazer disto um filme de 91 minutos. Selene é uma vampira que a certa altura se apaixonou por um humano, entretanto descobrimos que esse humano é um híbrido entre duas espécies, os lobisomens e os vampiros. Dessa relação surge uma criança cujo sangue possui propriedades únicas capazes de melhorar ambas as raças, sendo por isso cobiçada e deixando Selena numa situação de fuga constante. Todos estes pontos são abordados em detalhe num flashback que deixa os mais distraídos a par da trama que perdura há já 4 filmes, a novidade, desta feita, é que os vampiros agora precisam da ajuda de Selene para combater uma nova vaga de Lycans (lobisomens) liderada por um tipo ainda mais temível que todos os anteriores. A esta história central junta-se um enredo de conspiração política que coloca vampiros a trabalhar com lobisomens, um conclave secreto que detém segredos místicos e mais reviravoltas que um carro de NASCAR em pós-colisão.
Este franchise é a coisa mais próxima em termos cinematográficos de uma dona de casa que insiste em ficar com um marido violento. Tenta agarrar-se a personagens de que ninguém quer saber, com uma história demasiado pretensiosa para o tempo de duração. Toda a situação torna-se ainda mais ridícula quando somos presenteados com efeitos especiais dignos do canal Sci-fy e um amadorismo atroz na maneira de contar uma história. Não é exagero nenhum quando digo que aos 20 minutos já estávamos a assistir a um flashback do que se passou até então. A estrutura é de tal maneira atabalhoada que usam um artifício para todas as personagens poderem ficar a par do que cada uma andou a fazer, basta beber um pouco de sangue e ignorar todo o tipo de texto expositivo. Numa narrativa que se passa toda de noite ou no escuro, por razões óbvias, é preciso um cuidado especial com a fotografia e com os cenários, pelo menos seria o expectável, mas é dolorosamente óbvio que todas as cenas de exteriores foram filmadas de dia com um filtro azulado, tudo denunciado pelos olhos semi-cerrados e as sombras causadas por um sol que já devia estar posto. As cenas de luta são uma confusão mal coreografada, a certa altura Selene, que está a treinar os vampiros contra os Lycans, diz que o inimigo é mais perigoso na sua forma humana porque enquanto lobisomens não conseguem usar armas, mais uma desculpa para ter o mínimo de efeitos especiais com o mínimo de transformações possíveis. Porque haveríamos nós de ver um filme que vive da luta entre as duas espécies se nos retiram a ameaça que é encontrar um lobisomem? Com esta premissa percebemos que os capangas de qualquer filme do Steven Seagal são mais perigosos que um ser sobrenatural capaz de se transformar numa criatura feroz com poderes sobre-humanos.
Depois da pausa de Kate Beckinsale em Underworld: A Revolta, não sabemos muito bem o porquê do regresso. Entende-se o fascínio de ser a actriz principal numa série de filmes de acção, mas Beckinsale não é uma Milla Jovovich e digo isto no melhor dos sentidos. É com alguma pena que sentimos que Kate Beckinsale está ali ao engano, a achar que está a ser a criatura mais bad ass que alguma vez chegou ao grande ecrã, cada fala é pontuada com um piscar de olho metafórico e cheio de propriedade. Charles Dance é um veterano e interpreta um aristocrata vampiro com a dignidade a que já nos acostumou, mas num filme nada digno do actor. O vilão é completamente desinteressante e nunca deixa transparecer o perigo que é suposto representar, Tobias Menzies podia ser substituído por uma tábua de madeira que ninguém dava pela diferença, é raro assistir a uma prestação tão desadequada, com expressões faciais dignas de uma punchline num qualquer episódio de Benny Hill. Theo James é o colega de serviço da nossa heroína e tenho quase a certeza que pensava estar num anuncio publicitário para uma qualquer marca de roupa ou perfume, até os extras neste filme são de estranhar, tenho sérias dúvidas que depois de tantos séculos de vida os vampiros achem que o estilo hacker anos 90 seja o caminho a seguir.
Em suma, Underwold: Guerras de Sangue é uma confusão de ideias atiradas à parede e filmadas na ordem em que caíram ao chão. Uma miscelânea de mitologias enroladas num embrulho de látex dedicado apenas a fetishistas que precisam de representação no cinema mainstream. Não há paciência para hora e meia de poses intercaladas com fragmentos de história não concretizada e reviravoltas de narrativa que não surtem qualquer efeito de tão frequentes que são. Felizmente aprendemos alguma coisa, é mais fácil matar um vampiro e um lobisomem do que um capanga genérico de qualquer directo-para-vídeo.