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Há pessoas cuja vida se cruza com a História do Cinema e do mundo. Kirk Douglas é uma dessas existências magníficas, comemorando o 100º aniversário em 2016.
Sobrevivente da Golden Age dos estúdios de Hollywood, é um galã à moda antiga, sedutor desde o tempo das fitas a preto-e-branco, que marcou presença como actor em mais de 90 filmes. De voz grave e presença colossal, o apogeu da masculinidade entregou-se a cada papel, ora guerreiro ora frágil, foi tudo de herói a vilão.
Estreou-se como actor em 1946, aos 30 anos de idade e depois de ter combatido na 2ª Guerra Mundial como oficial de comunicações da Marinha. Deu os primeiros passos na Broadway mas entregou-se ao Cinema pela mão da amiga Lauren Bacall no filme The Strange Love of Martha Ivers. Escreveu-se mais tarde sobre o seu desempenho que “His style and his personality came across on the screen, something that does not always happen, even with the finest actors. Douglas had, and has, a distinctly individual manner. He radiates a certain inexplicable quality, and it is this, as much as talent, that accounts for his success in films.“.
Foi três vezes nomeado ao Óscar da interpretação, mas sem ganhar contudo: em 1949 com Champion, em 1952 com Bad & the Beautiful, e em 1956 com Lust for Life. Em 1996 a Academia agraciou Kirk Douglas com um Óscar honorário pelos 50 anos na indústria. Bem antes disso, em 1968, na cerimónia dos Globos de Ouro recebeu o Cecil B. DeMille Award for Lifetime Achievement.
Da sua vasta obra como actor, destacam-se clássicos intemporais.
O mais reconhecido pelo público é Spartacus de 1960, um épico histórico realizado por Stanley Kubrick, com Laurence Olivier e Tony Curtis nos papéis secundários. Dalton Trumbo escreveu o argumento adaptado do romance homónimo, apesar de à época estar na lista negra do Congresso – um dos mais tristes momentos da democracia norte-americana, e diz-se que o próprio John F. Kennedy ajudou ao fim da lista pela sua consideração pelo trabalho de Douglas. Kirk é Spartacus, um gladiador que conduz os escravos do Império Romano à liberdade, e é também o arauto da esperança de todos aqueles que se sentiram perseguidos pelo Senador McCarthy.
Em 1951 daria a sua grande performance em Ace In The Hole, um filme de Billy Wilder. Kirk é um jornalista que mantém um refém para conseguir construir um furo mais sumarento. Violento e manipulador, chega a agredir a mulher do homem-prisioneiro para que esta expresse maior sofrimento. Com o seu olhar penetrante e frio, deverá ter semeado o medo pelas salas de cinema.
Anos antes, em 1949, Kirk Douglas conquistava até os corações mais rugosos em Champion. Um filme noir que relata a vida de Midge Kelly, um boxer implacável que é fiel apenas a si próprio e não hesita em trair todos os que lhe são mais próximos na cega ambição da vitória. Um ano depois, em 1950, surpreende num registo distinto em Young Man With a Horn, um drama musical inspirado na vida de Bix Beiderbecke, um mestre do jazz, em que divide o ecrã com Lauren Bacall e Doris Day. Em 1956, em Lust for Life Kirk interpreta nem mais nem menos que Vincent van Gogh, o torturado pintor holandês. Em 1957, em Paths of Glory, o pano de fundo é a I Guerra Mundial – um cenário familiar a Kirk, um filme nitidamente pacifista e assinado por Stanley Kubrick. A década de 1950 foi marcada pelo sucesso.
Apesar da longevidade e vitalidade, Kirk está actualmente afastado do grande ecrã. Mas para sempre guardaremos na memória o seu rosto de 30 anos. E, claro está, a titânica linha de guião “It’s Spartacus! It’s Spartacus!”.