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De 27 de Janeiro a 4 de Fevereiro de 2016 realizar-se-á em Portugal a décima terceira edição da KINO – Mostra de Cinema de Expressão Alemã. Sob a direção do Goethe-Institut Portugal e em colaboração com parceiros locais, o festival apresenta em Lisboa, Porto e Coimbra as mais recentes tendências do filme de ficção alemão, bem como um programa cuidadosamente seleccionado de curtas metragens e documentários. A complementar este programa haverá ainda a Mostra para Escolas, destinada ao público jovem da KINO.
Em jeito de balanço do caminho percorrido e de antevisão do que esta edição nos traz, estivemos à conversa com Corinna Lawrenz, da organização da excelente mostra de cinema alemão.
À 13ª edição do KINO, qual o balanço que fazem da evolução do certame em Portugal?
A KINO começou como uma mostra relativamente pequena no próprio Goethe-Institut em Lisboa, uma semana de filmes recentes da Alemanha, tendo-se desenvolvido exponencialmente ao longo dos anos através do trabalho e da dedicação da nossa colega recentemente falecida Isabel Lopes. Em 2005 e 2006 teve edições no Cinema King até passar para o Cinema São Jorge em 2008. Cresceu assim não só em termos de quantidade de filmes exibidos, mas também no que diz respeito à programação que começou a incluir várias secções, bem como ciclos e retrospectivas. Para além disso, nos últimos anos foi alargado também ao Porto e a Coimbra. A crescente disponibilidade de cópias digitais terá certamente contribuído para o crescimento e desenvolvimento da Mostra.
Ademais, a estreita colaboração com as Embaixadas da Áustria, da Suíça e de Luxemburgo tornaram possível a exibição de um amplo panorama de cinema de expressão alemã, tanto no que diz respeito aos realizadores mais conhecidos, como a um cinema jovem e, em grande parte, ainda desconhecido.
O KINO constitui parte integrante tendo-se estabelecido no calendário cultural de Lisboa. Trabalhamos para dar a conhecer uma programação cada vez mais atractiva para o público português, com temas actuais e perspectivas interessantes e desafiantes sobre o mundo dos nossos dias.
2. Como é a experiência de programar para o público português, ao qual – geralmente – o cinema europeu passa despercebido?
Em primeiro lugar, não sei se concordo completamente com a descrição do público português e, implicitamente, da programação das salas portuguesas. Não só em termos de festivais (a festa do cinema italiano ou a festa do cinema francês, para mencionar só dois exemplos marcantes), mas também em termos de estreias nas salas. No que diz respeito ao cinema dos países de língua alemã, no ano passado estrearam em sala filmes como Phoenix de Christian Petzold, Amour Fou de Jessica Hausner ou 13 Minutos de Oliver Hirschbiegel. O cinema que passa, de facto, despercebido talvez seja, antes, o cinema mais independente, os filmes de jovens realizadores, documentários ou curtas-metragens mais experimentais. Por isso, a nossa programação pretende também encher esta lacuna e exibir filmes que não entram no circuito comercial. É um dos grandes desafios, e talvez o mais interessante, criar um equilíbrio entre os grandes nomes do cinema alemão e os filmes mais bem-sucedidos dos últimos tempos por um lado, e um cinema jovem e desconhecido, com outras abordagens cinematográficas.
3. No decorrer deste tempo, têm sentido mudanças na indústria cinematográfica de expressão alemã? Conseguem identificar correntes ou temas mais expressivos?
Num texto sobre o filme Die Lügen der Sieger que inaugurará a KINO 2016, o realizador Christoph Hochhäusler escreve sobre a questão do filme político no cinema alemão. Não é por acaso que abrimos a mostra com um filme que é altamente político sem, porém, nunca cair na armadilha de uma retórica didáctica. Uma certa tendência apolítica marca, de facto, algumas das correntes do cinema alemão dos últimos anos – se pensamos por exemplo no cinema que foi depois reunido sob o termo de Escola de Berlim. Por outro lado, também verificamos que surgem ultimamente novos olhares e novas preocupações com situações políticas e sociais que já começaram a serem reflectidas na KINOdoc do ano passado, tendo uma presença mais forte na edição deste ano. Ademais, o filme histórico é uma corrente tradicionalmente forte do cinema alemão, também ele com uma presença contínua nas edições da KINO.
4. Quais os principais destaques para esta edição da KINO?
A edição de 2016 abre com o thriller político Die Lügen der Sieger de Christoph Hochhäusler. O filme, que foi descrito pelo crítico de cinema Rüdiger Suchsland como um filme complexo e extraordinariamente bem filmado, acompanha o jornalista Fabian Groys e a sua estagiária Nadja pelos caminhos obscuros das investigações de um escândalo político. A questão de como e quem é que constrói a nossa realidade e, como diria o próprio Christoph Hochhäusler, “escreve as nossas histórias”, acompanha o filme todo. Este filme representa, como tal, uma abertura altamente política da Mostra Principal deste ano. A exibição conta com a presença do escritor e co-autor do guião do filme, Ulrich Peltzer.
Há uma série de outros filmes no programa deste ano que colocam questões políticas e abordam temas actuais, entre eles a segunda longa-metragem de Burhan Qurbani sobre os acontecimentos em Rostock-Lichtenhagen em Agosto de 1992. No centro está o retrato de uma sociedade entre a frustração pouco tempo depois do fim da RDA, e a violência contra requerentes de asilo que culmina numa noite.
O tema de pedido de asilo também é abordado por três documentários da secção KINOdoc (o documentário suíço Neuland, Lampedusa im Winter do austríaco Jakob Brossmann, e Willkommen auf Deutsch) e pelo filme Schweizer Helden da Mostra Principal, uma contribuição da Embaixada da Suíça.
Uma novidade importante da programação são as Novas Perspectivas. Sob este título exibimos, este ano, filmes de jovens realizadores com abordagens diferentes e olhares muito próprios sobre o mundo. Inserem-se, neste foco, curtas-metragens de animação, bem como filmes de ficção da mostra principal (a destacar a sessão dupla com Ein idealer Ort e Bube Stur no dia 31 de Janeiro). Na KINOdoc, os documentários Freiräume de Filippa Bauer e Wie ich lernte, die Zahlen zu lieben de Oliver Sechting e Max Taubert.
A sessão de encerramento conta com a exibição do filme austríaco Superwelt de Karl Markovics que estará presente na sessão. O segundo filme do realizador (depois de Atmen) conta a história de Gabi Kovanda, empregada num supermercado, cuja vida é transformada por completo por um acontecimento estranho – um encontro com Deus.
Outra estreia desta edição da KINO é a retrospectiva dedicada a Rosa von Praunheim – figura importante do movimento político homossexual na Alemanha, realizador de mais de setenta filmes, autor e professor de cinema – organizada em colaboração com a Cinemateca Portuguesa e o crítico de cinema Augusto M. Seabra.