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Duas actrizes extraordinárias, um realizador espantoso, duas amigas na estrada, um road movie pelas áridas e intermináveis paisagens americanas, e temos os ingredientes para um filme promissor. Thelma and Louise tem um estatuto mítico.
Ridley Scott é um dos realizadores que mais admiro. Filmes como Blade Runner, Alien ou Gladiator são marcos na história do cinema e na minha história pessoal. Lembro-me das sessões de cinema à tarde depois das aulas em que Wes Craven era presenca assídua e lembro-me de ter visto os Alien (o de Scott e os outros) justamente numa dessas matinés, a única da qual me lembro verdadeiramente. Lembro-me de não ter compreendido nada do Blade Runner (não me lembro que idade tinha quando o vi pela primeira vez), mas de ter toda aquela imagética sempre presente ao longo dos anos, particularmente a personagem de Rutger Hauer claro! Revi há não muitos anos e foi um impacto brutal! E o que dizer de Gladiator que fui ver duas vezes ao cinema e que mesmo com todas as suas falhas cénicas é um filme inspirador? Já para não falar do discurso de Russel Crowe ao receber o Óscar de Melhor Actor, que é – simplesmente – o melhor da história da Academia.
Adoro o ritmo e a originalidade dos filmes com que Scott nos brinda. Neste caso diria que deu ao road movie uma nova definição. Susan Sarandon é uma das minhas actrizes preferidas. Aqueles expressivos olhos enormes são capazes de transmitir as mais variadas sensações (nomeadamente em Dead Man Walking). É uma senhora cheia de classe, uma lutadora e a sua versatilidade artística permite-lhe abraçar qualquer papel. Geena Davis era a minha heroína nos anos 90. Um dos meus sonhos de miúda era ser uma action lady como ela em Cutthroat Island ou The Long Kiss Goodnight, papéis inspiradores para uma jovem com sede de aventuras. Mulher de armas, actriz admirável e também um dos rostos mais bonitos que o cinema já viu.
A grande aventura americana: um carro e a estrada livre pela frente. Estas duas compinchas estão perfeitas como grandes amigas que embarcam numa aventura sem retorno. Ora, neste caso, a estrada livre pela frente é tudo o que estas mulheres têm. E a aventura dura o tempo em que se aguentarem no asfalto com Harvey Keitel no encalço. Sim: porque este elenco, para além das duas grandes protagonistas tem secundários de destaque. Um jovem Keitel feito incansável e compreensivo detective – antítese daquilo a que normalmente associamos este talentoso actor. Michael Madsen, novíssimo e igual a si próprio. E, também, jovem que nem uma flor na Primavera, Brad Pitt, num dos seus primeiros filmes, uma aparição tão breve como fulgurante.
Este filme é sobre como uma série de circunstâncias podem mudar o percurso duma vida (ou duas) de forma irreversível. Embora as protagonistas sejam duas mulheres, elas representam todas as pessoas que não são livres, que são forcadas a viver em função dos preconceitos dos outros ou da sociedade. O filme mostra também o sufoco da injustiça e em como ser mulher significava (e significa ainda) estar em desvantagem ou estar mais exposto a ser vítima. É ambíguo! Porque Thelma e Louise recusam-se a ser vítimas. Aliás, o filme foi um grande hit e mantém-se tão gritante 25 anos após a estreia justamente por esse “Grito do Ipiranga” que para algumas camadas parece ser ainda tão intolerável de ouvir e aceitar. Desconfio que Thelma & Louise ainda será actual por muito tempo. As escolhas que se vão fazendo pelo caminho – sobretudo à medida que as opções se tornam curtas ou até mesmo inexistentes – definem a densidade da viagem que fazemos. E, em última instância, aquilo que somos.
Something crossed over in me. I can’t go back. I just couldn’t live.
Com a indumentária perfeita para esta jornada (jeans e t-shirt (e há indumentária mais perfeita do que essa?)), de cabelo ao vento e sorriso no rosto, estas mulheres protagonizam um dos filmes mais emblemáticos do cinema, uma obra de destaque nos road movies. Thelma e Louise serão recordadas no imaginário de todos os amantes de viagens de carro e todos os defensores de liberdade, em que a sensação de sufoco vai ficando para trás à medida que nos fundimos com o asfalto. No meio da perseguição, um momento de paz, um cigarro saboreado por entre os silenciosos rochedos feitos testemunha, no grandioso Grand Canyon (na realidade no Moab em Utah). O apoteótico final é uma das razões pelas quais o filme é tão mítico, uma espécie de Butch Cassidy and The Sundance Kid, versão feminina anos 90. Intemporal!