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Há algo de muito bonito a acontecer em torno dos Idles. Tão bonito, tão poético, que se estranha nesta era de exclusão social, individualismo, política tóxica e futuro incerto. Não queria nada referir estas ideias num artigo sobre a banda mais engajada do momento, mas prometo que não volta a acontecer.
Em 2017 surpreenderam com o disco Brutalism, sobre o qual escrevemos «Mais do que o simplista ‘vão-se foder’ do punk, deixa escapar apontamentos pessoais e observações nostálgicas vindas da penumbra da mesa do canto», e tornaram-se a voz de uma geração britânica para lá de descontente com o estado das coisas. Rasgaram fronteiras e encontraram numa Europa à beira de um ataque de nervos a mesma vontade de viver pelo mantra «The best way to scare a Tory is to read and get rich». Com entradas a pés juntos como em White Privilege «How many optimists does it take to change a lightbulb? None! Their butler changes the lightbulb. Always poor, Never bored», o disco foi uma declaração de intenções. A cartilha de guerra chegaria no ano seguinte.
Em 2018, Joy as an act of resistance foi aclamado, entronado, reverenciado, adorado e elevado ao Olimpo dos melhores do ano. Quanto a mim, 2018 foi o ano dos Idles – e de Iceage com Beyondless e de Shame com Songs of Praise, uma espécie de três pastorinhos que nos devolveram a fé no pós-punk inteligente, musculado, real e visceral. Quem ainda não dançou freneticamente ao som de Great ou I’m Scum precisa mesmo de começar a viver. Parece-me importante destacar o refrão de Danny Nedelko pela sua urgência:
Fear leads to panic, panic leads to pain, pain leads to anger, anger leads to hate
Em 2019, os Idles actuaram em Glastonbury e concretizaram um sonho. Joe Talbot nunca foi homem de esconder as suas emoções «When someone leaves you all alone, and nobody calls you on the phone, don’t you feel like crying? Don’t you feel like crying? Well here I am, boy. Cry to me». Acabou o concerto de Glasto em lágrimas, deixou-se levar pela emoção, quebrou o preconceito e viveu o momento de acordo com as suas regras.
Joe Talbot está zangado? Sempre. Mas não está vagamente revoltado, pelo contrário, é interventivo e quer transformar o mundo. Voz grave e rouca, grita e dá tudo de si em palco. Sabemos que acredita no que canta, que não é uma mera figura construída com um propósito artificial, que instrumentaliza o activismo da moda. A cada canção, em cada palco que pisa, em entrevistas: todos os momentos são importantes para nos lembrar que temos de «look after each other».
Mas falemos deste novo lançamento, A Beautiful Thing: IDLES Live at Le Bataclan. O disco ao vivo foi gravado no encerramento de uma tour de 90 datas, a 3 de Dezembro de 2018, na mítica sala parisiense, ela própria martirizada. Saiu dali um disco que celebra os dois LPs de estúdio, bem como o percurso dos Idles, e «highlights their overall message of unity, and of healing through community» lê-se em idlesband.com.
São 19 interpretações apoteóticas. Apesar dos vídeos que circulam pela web, é um daqueles eventos que apenas quem lá esteve será capaz de descrever a energia. O diálogo com o público, as vozes que se juntam a cada música, os gritos de ordem, a esperança e a alegria de estar ali naquele momento: quando passa para este lado, ouvimos a celebração e a festa, somos convidados a fazer parte de tal experiência mística.
A Beautiful Thing: IDLES Live at Le Bataclan é um manifesto, uma declaração de amor à Humanidade e uma homenagem à música que nos une. Joe Talbot avisa logo no início «we built this tour on love and compassion» e nota-se. Canta alegramente «I’m scuuuuum». Pede-nos encarecidamente «Love yourself». Alerta em Rottweiler que «this song is an antifascist song».
«That show was nothing short of catharsis and nothing more than love. We love what we do and the people who have carried us here, there was no hiding that at Bataclan and we are so very grateful that the moment was captured in all its glory, love and fatigue. Long live the open minded and long live the moment.», declara Talbot no site oficial dos Idles.
Mais que uma edição de coleccionador ou para fãs, é um objecto essencial para quem se sente incomodado e nem sabe por onde começar a manifestar o seu descontentamento e desencantamento.
O disco ao vivo A Beautiful Thing: IDLES Live at Le Bataclan chega às lojas a 6 de Dezembro de 2019 (obrigada à label pela pré-escuta!), em formato digital, vinil, CD e em diferentes combinações de cores e formatos (ver na loja).