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Infelizmente ninguém se safa de um drama ou de uma novelinha, nem mesmo quando se acompanha um género musical que, estando um pouco mais afastado das luzes da ribalta, devia estar longe de se ver travado por problemas de ambições, egos e mais uma data de outras coisas que fazem colectivos implodir. Ainda nos lembramos bem do caso Gorgoroth, que deixaram de o ser para muitos, mesmo com discos lançados, ficando supostamente os God Seed como os verdadeiros Gorgoroth. Ainda que desnutridos. Chegámos ao cúmulo de ter dois Queensryches diferentes a lançar discos no mesmo ano, deixando apenas a questão sobre qual das bandas valeria menos a pena. E mais recentemente tivemos os Immortal divididos a disputar esse consagrado nome. Demonaz e Horgh ficaram com ele e instalaram o frenesim quando anunciaram a continuação da banda sem o carisma-chave do líder Abbath. Esse, entretanto, lá se atirou para tentar safar-se com uma banda em nome próprio a ver no que dava. Para já, tudo o que conseguiu foi um tremendo discaço, logo parece estar a desenrascar-se.
Recrutando a ajuda do já veterano na cena King ov Hell no baixo e Creature (Benighted, Disavowed) a tratar da bateria, Abbath começou a trabalhar em novos temas para provar quem era realmente o núcleo dos Immortal. Apresentou um álbum inspirado, onde leva a marca Immortal consigo para identificação e familiaridade dos fãs que já tinham preparado o luto pelo grupo, ao mesmo tempo que também se mostra mais à vontade para explorar outras fontes. Os ares gélidos de um “Battles in the North” ou de um “At the Heart of Winter” ainda pairam sobre “Abbath”, onde também existe mais liberdade para se recorrer a um lado mais melódico do seu pouco referenciado projecto I. O black metal ainda é o alicerce de tudo isto, mas é num álbum onde não se esconde nem disfarça qualquer influência de Slayer ou de qualquer acto de heavy metal tradicional como os Judas Priest, homenageados com uma cover de “Riding on the Wind” como bónus. E o próprio Abbath continua a soar a si mesmo, mas com um tom de voz muito mais ameaçador do que o habitualmente cómico – mesmo que icónico – tom que marcou uma “Grim and Frostbitten Kingdoms”, por exemplo.
Muito completo e coeso como um todo, este é um álbum de canções e de poucos rodeios, com a introdutória “To War!” a prender-nos a atenção com a cavalgada do seu colossal riff principal. Há algo de épico, sem que tenha que se fazer desse vocábulo um palavrão, no refrão de “Count the Dead”. O tal factor melódico abunda em “Root of the Mountain”, mas quiçá nem com toda a influência thrash que existiu no som mais recente de Immortal se conseguiu a agressividade veloz de “Fenrir Hunts”, um dos mais altos pontos de todo o registo. Junta-se a “Winterbane” que já recorre a outra abordagem, ficando como a canção mais progressiva do colectivo, onde nem passagens acústicas ficam a faltar. A festa acaba com “Endless” e não é para descansar, ficando neste conclusivo tema outra das maiores descargas de energia que este já nada sereno álbum tem.
Podia muito bem ser um sucessor de “All Shall Fall” mas vai além disso, completando muita coisa que faltava nesse álbum e tapando vários buracos que existiam nos Immortal pós-reunião. E leva força suficiente para tomar o seu próprio caminho e evitar o rótulo de “álbum de Immortal com outro nome”, sendo um pontapé-de-saída convincente para uma identidade renovada. Para já, Abbath passou no teste da separação e comprovou a teoria pela qual muitos já colocavam a mão no fogo, de que Immortal precisa muito mais de Abbath do que o contrário. Vejo este auto-intitulado como uma mera obra musical, mas podia muito bem ser uma continuação da guerra, um tiro certeiro, um desafio, um “agora faz melhor”. Mas não. Pode ser apenas um grande disco.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)