Alcest

Les Voyages De L’Âme
2011 | Prophecy Productions | Shoegaze

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Falar e definir Alcest nem sempre é tarefa fácil e o grande culpado é Neige com a sua mente brilhante e conturbada. Para quem não conhece, Alcest é a transformação e tradução musical das visões – uma espécie de ponte entre dois mundos diferentes – que Neige começara a ter ainda em criança. Se a primeira abordagem com a demo “Tristesse Hivernale”, em 2001, era claramente black metal, em 2005, com o EP “Le Secret”, assistiu-se à introdução – ainda que ligeira – do conceito e dos caminhos do pós-black metal e do shoegaze na sua sonoridade.

Em 2012, e após dois álbuns, Neige traz-nos “Les Voyages De L’Âme”. É um álbum que abandona em grande parte as influências mais pesadas do metal, como era bastante evidente em “Écailles de Lune”, para explorar o shoegaze, muito característico de “Souvenirs d’un Autre Monde”, e ainda mais o pós-rock, conferindo um grande sentido de profundidade e diversidade ao álbum. Diversidade, essa, que se pode constatar, por exemplo, na primeira faixa, “Autre Temps”, que tem uma estrutura muito simples, com as vocalizações limpas de Neige a atingirem a perfeição. É provavelmente das músicas mais despidas, bonitas e sentidas que se ouviu em Alcest, quase a roçar uma linha pop; ou na extensa “Là Où Naissent Les Couleurs Nouvelles” que, ao longo de quase nove minutos, vai tendo vários climas e conjuga na perfeição o Shoegaze com o assombro dos guturais de Naige, bem como a força da bateria e dos blastbeats que dão uma dinâmica muito própria à música nas suas diferentes cadências; por outro lado, “Beings Of Light”, com vocalizações quase etéreas, está muito próximo do material mais Black Metal feito por Alcest.

O título não poderia ser mais apropriado para este álbum: é realmente uma viagem ao longo das oito músicas; o álbum, ora romântico e hipnótico, ora melancólico e duro, transporta-nos, em crescendo, para uma atmosfera transcendente, que facilmente faz com que o ouvinte se perca e recrie visualmente todas as ambiências e melodias.

Estamos perante um álbum muito coeso, que a cada audição nos brinda com novos pormenores e que, desta forma, vai crescendo no ouvinte. Sendo extremamente complicado, mesmo para a base de seguidores da banda, dizer qual será o melhor álbum de Alcest, ou pelo menos gerar consenso, uma coisa é certa: esta trilogia é brilhante, e cada álbum tem a sua personalidade, mas que de certa forma se completam. Se “Souvenirs d’un Autre Monde” é o trabalho mais limpo e cristalino da banda e “Écailles de Lune” o mais sombrio e invernal, “Les Voyages De L’Âme” está algures entre os dois, com o pós-rock decididamente implementado.


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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