Arcade Fire

The Suburbs
2010 | Merge Records | Indie Rock

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Os Arcade Fire caminham cada vez mais para o estatuto de banda de culto. São, sem dúvida, uma das bandas de proa da primeira década do novo milénio, e têm o respeito, o louvor das críticas, e o apreço da larga base de fãs que conquistaram, desde o seu ano de formação, em 2003.

Dizem que o segundo álbum de uma banda, é a sua prova de fogo. O primeiro álbum é aquele que abre portas, que cria uma bolha de excitação e expectativas salivantes, é feito com pouca ou nenhuma pressão. O segundo será o que a metamorfose-á dentro de si mesma. Já no terceiro, a ideia é manter uma correlação com o segundo em termos de nível qualitativo. Muitas bandas seguem a mesma trilha, outras dão um salto maior que elas próprias e caem. O risco é maior, tudo é mais pensado e planeado. Muito mais se espera, depois de dois sucessos coesos.

Arcade Fire estrearam-se sobriamente frescos em Funeral. Foi o que os catapultou, para o título de uma das bandas promissoras, the next big thing de 2004. Volvidos três anos, Neon Bible estabilizou-os num patamar de segurança, era o filho já muito acarinhado, mesmo antes de nascer.

Neste novo registo, The Suburbs, uma primeira audição não é, de todo, suficiente. As hostes dividem-se. São precisas várias para se percepcionar a fluidez melódica com que, as 16 canções, se interrelacionam. Tal como nos subúrbios, onde há mesclas culturais, aqui há canções para todos os gostos.

A primeira canção, homónima ao título do álbum, abre com um sentimento de nostalgia, de alguém que está a ver a sua vida passar no subúrbio onde sempre viveu “But in my dreams we’re still screamin’ and runnin’ through the yard”. No entanto, as crianças cresceram e os sonhos são outros, “Why I want a daughter while I’m still young”.

Em “Rococo”, que podia ser confundida como uma canção de Funeral, há toda uma paz, uma calma e uma dimensão espiritual, mas logo explode com a grandiosidade sonora, a que Arcade Fire nos habituaram, “They’re moving towards you with their colors all the same”.

“Sprawl” e “Sprawl II”, apesar do mesmo nome, diferem em muito. A primeira é uma balada carrancuda. A segunda, um hino ao disco sound.

Ao longo do albúm há sombras de Bruce Springsteen, que de resto é um dos “mestres” da banda. Em “City With No Children”, “Deep Blue” e “Wasted Hours” há claras semelhanças ao som do The Boss, especialmente em baladas como “The River” ou “Leap of Faith”.

“Ready to Start” e “Month of May” são as faixas mais hormonais do albúm. A segunda traz uma sonoridade rockabilly, algo perfeito para dançar jive, ou para imaginar os protagonistas de Grease a mexer. É algo novo nos Arcade Fire. Parece que entretanto nos entram os Queens of the Stone Age com Millionaire ou Go With the Flow disco adentro, mas com menos veneno. No entanto é um tipo de andamento sonoro que resultará bem em formato “ao vivo”. A canção de encerramento, é uma versão de embalar, da que precede o alinhamento.

Tal como nos subúrbios, onde há mesclas culturais, aqui há canções para todos os gostos. À primeira, pode parecer que nada pega com nada. E embora haja um desfasamento em termos de sons e texturas, o álbum conceptual Suburbs conta uma história. Comparativamente a Funeral, o som é mais sóbrio. Menos entusiasmante e borbulhante, menos fresco. O que é compreensível, visto ser todo um conceito diferente, e serem uns Arcade Fire de 2010, mais maduros.


sobre o autor

Andreia Vieira da Silva

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