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A fase matutina de Beck não é a melhor e Morning Phase só pode ser simpaticamente descrito como um despertar amorfo e paulatino que não aquece nem arrefece.
Seis anos depois de Modern Guilt, Morning Phase surge como irmão mais novo de Sea of Change de 2002. As semelhanças são mais que muitas e não há como o contornar. A produção musical de um e de outro estão em par e é esse o aspecto positivo que cabe ressalvar. Porém, onde “Sea of Change” era tematicamente mais focado e movido a agruras e desencantos, Morning Phase é genérico, desenvolve-se com uma bonomia aborrecida e resvala amiúde numa atitude de sabedoria condescendente. Beck dá conselhos para a vida com a qualidade retórica de um bolinho da sorte.
O álbum abre com “ Cycle”, prelúdio de “Morning”, e o compasso e o tom ficam já vaticinados. Pachorrência quaternária sobre camadas e camadas de reverb que fazem de Beck mais etéreo que Nosso Senhor. A abordagem pós-moderna de desconstrução e miscigenação de géneros de que Beck fez cartão de visita passa para segundo plano, mas faixas como “Heart Is a Drum”, “Unforgiven” e “Don’t let it go” fazem-lhe alusão. Não se perdesse Beck em clichés do post-rock e outras “sigur rosices” e estariam aqui canções folk que não nos inibiríamos de comparar a composições de Nick Drake e Neil Young. Se juntarmos a estas “Country Down”, agora sim, convictamente próxima de Neil Young, temos um EP interessante. O problema é a restante carne para canhão sensaborona. “Wave” é um exercício de paciência que recupera a linha do quarteto de cordas de “Cycle” sobre a qual a voz encharcada em reverb de Beck vai cantando não se sabe muito bem sobre o quê.
O que fica de Morning Phase é uma fantástica desinspiração que não se justifica; uma sensação de déjà vu que começa com cada faixa. Oiça-se “Don’t Let It Go”, “Black Bird Chain” e “Country Down;” começam exactamente com a mesma nota, enveredam por uma progressão melódica redundante ao ouvido e resolvem-se de forma semelhante. Apesar de até termos elogiado duas destas faixas, o que realmente se desejaria era que elas nunca fizessem parte do mesmo conjunto. Ao invés, que ficassem remetidas ao estatuto de faixas obscuras de um outro álbum melhorzito.
Morning Phase soa ao fundo do barril. Falta-lhe inspiração, sagacidade e energia. Não é bom nem é mau, mas soa ao que seria o conceito oposto de “best of.”