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Em entrevista ao Arte-Factos os Bed Legs foram peremptórios em afirmar que o seu álbum de estreia seria “do caraças”. O elogio em boca própria nunca fica bem, portanto permitam-nos: Black Bottle é do caraças.
Fica assim esta crítica; é no espírito do Faixa a Faixa que a banda assinou e evita-nos um mundo de sarilhos e contradições que um texto mais elaborado traria. E falta mesmo dizer alguma coisa?
Pronto, está bem.
À semelhança do que aconteceu quando os Alabama Shakes lançaram o seu primeiro álbum, a imprensa esforçou-se para encontrar palavras que justificassem um artigo.
Mas como é que se elogia um álbum que não faz absolutamente nada de novo?
Claro que podemos elogiar a voz plena e cheia de alma, a lembrar um Jimmy Hendrix afinado, que Fernando Fernandes entrega aos temas, mas para lá do vocalista com um nome que o Stan Lee aprovaria ainda faltaria apontar o fenomenal trabalho de guitarra que nos enche as medidas sem nunca precisar de extravasar muito das pentatónicas e da ocasional progressão cromática, faltaria falar do baixo contagiante de “Road Again” e de como “My Heart Back” nos traz os Led Zeppelin à memória sem os complexos da banda universitária que vê nos ingleses o alfa e omega do rock. Tudo isso, mais os riffs orelhudos, os solos feitos de fuzz e wha-wha, a bateria que respira e dá espaço ao silêncio, as incursões sem esforço por outros estilos de quem vê na soul, no blues e no rock água da mesma fonte, tudo teria que ser dito e, invariavelmente, nada disto diria porque é que Black Bottle é “do caraças”.
É que soa-nos estranho quando o melhor que se pode dizer, tal como se fez com os Alabama Shakes, é que um álbum soa ao mesmo que outros artistas estavam a fazer há quarenta anos atrás.
Black Bottle é uma excelente advertência de que a música não pode ser sempre escrutinada e avaliada à luz de critérios mais ou menos aleatórios que anos de pesporrência convencionaram. Às vezes é gut feeling – à falta de melhor correspondência em português. E o álbum dos bracarenses tem um apelo que não se explica. Porque no meio de canções sobre amores e desencantos, abusos de substâncias e aulas de segundo semestre de “Introdução ao Estudo da Má-vida”, há algo de subversivo e contra-cultura: Black Bottle soa a algo que não devíamos estar a fazer.