Big Big Train

English Electric (Part One)
2012 | Eer / Gep | Rock Progressivo

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O Rock progressivo é um género que teve os seus anos de ouro há umas décadas atrás mas que ainda recebe muita admiração por parte de amantes de música complexa. Nos dias actuais, continuam a realizar-se obras com esse rótulo que abordam de forma mais moderna e personalizada aquele precioso som retro, sem deixar de vincar bem as suas influências. No caso desta banda Inglesa, há muito Genesis por aqui, mas não deixa de ficar bem sublinhado o som “Big Big Train”.

A primeira coisa que se deve apontar quanto à primeira parte deste projecto “English Electric” é a maturidade. Houve um crescimento notável desde o anterior “The Underfall Yard” que dá gosto ouvir numa banda que mostrou potencial desde o início. Ainda se mantêm bem agarrados ao conceito de trazer músicos convidados, mas apenas para terem com que reforçar o fantástico multi-instrumentalismo que consta em cada uma das faixas, nestas brilhantes composições saídas das cabeças desta mais recente formação da banda.

Um exemplo de um passo à frente que se nota neste disco é o da sua abordagem melódica e acolhedora, assim como a sua produção. Regam as esplêndidas composições técnicas com acessibilidade, tornando-o um disco mais polido e abrangente, que se sinta bem-vindo no ouvido de imediato. Isto é feito da forma correcta e não de modo a que soe estéril e vazio. Neste caso, favorece e engrandece as já belas canções. Completa-se com umas melodias dóceis e viciantes – como não posso deixar de destacar em “Uncle Jack”, “Winchester From St. Giles’ Hill”, “Hedgerow” ou aquela que aponto como a mais grandiosa música “Judas Unrepentant” – e temos um disco altamente convidativo e propício a audições repetidas.

As influências estão todas lá, mesmo que abordadas de forma personalizada. Toda a atmosfera que paira sobre os temas parece vindo da década de 70 – sempre com aquelas pitadinhas modernas para que se situe no presente como deve ser. As composições seguem linhas comparáveis às de grandes nomes como os já mencionados Genesis, Van der Graaf Generator, King Crimson, um pouquinho até de Jethro Tull e com direito a uma viagem até Itália para resgatar algumas influências dos Premiata Forneria Marconi. Deixa-se sempre espaço para uma parte ambiental algo embelezada por um pouco de Pós-rock capaz de agradar aos Sigur Rós. E uma hegemonia constante do “folk” seja no início de “Judas Unrepentant”, ao longo de toda “Upton Heath” ou em “Uncle Jack” onde anda até tão perto do Bluegrass. Tudo condimentado com a voz de David Longdon que com certeza estará bem familiarizado com Peter Gabriel. Muito bem administrado numa sucessão de mutações abordadas de forma tão natural. Como se fosse feita uma colagem, mas aproveitando a matéria-prima reciclada para algo totalmente novo e próprio.

No seu total, compõe um disco com bastante identidade e com bastante força imperativa para nos mandar ouvi-lo outra vez. Seja de novo à procura das sedutoras e envolventes melodias que servem como anzol para puxar a atenção do ouvinte logo à primeira, seja à procura de novos pormenores na impressionante e inovadora musicalidade presente neste multi-instrumentalismo digno de vénia, seja simplesmente porque é uma obra-prima que merece ser ouvida de novo para acompanhar o que quer que seja que estejamos a fazer, nem que seja um momento para nós próprios dedicado a isso mesmo: absorção de música. De qualquer das formas, é mais um disco para a jeitosa colecção de álbuns progressivos do ano…


sobre o autor

Christopher Monteiro

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