Black Sabbath

13
2013 | Universal | Metal

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Com um novo disco de Black Sabbath a chegar-nos às mãos, o primeiro com Ozzy Osbourne a comandar as linhas vocais desde 1978, não é assim tão fácil guardar todo o histerismo à volta da dimensão de um lançamento como este e de prender o fanboy numa jaula para dar espaço a uma postura mais séria, que não olhe com tanto fanatismo para o tremendo petardo ou gigante desilusão que daqui podia sair. Mas consegue-se. O que já não se consegue evitar é a contextualização, em termos históricos, deste trabalho.

Resumindo, Ozzy a dar voz aos Black Sabbath em disco é algo que já não é ouvido desde “Never Say Die!” de 1978. Seguiu-se uma revitalização com Ronnie James Dio e, de seguida, um total arrastar do nome pela lama que, de alguma forma, conseguiu estender-se até à década de 90. Têm um “Forbidden” para redimir e um “Born Again” para justificar, e cai nesta reunião o peso da responsabilidade de recuperar o legado criado pelo grupo pioneiro do heavy metal na década de 70. Fazem-no com três quartos da formação original, que é o mais Black Sabbath que se consegue em estúdio há uns valentes anos – mesmo que a formação completa estivesse perto de acontecer. É esta a parte que pode causar mais sarna a alguns, pois atrás do kit ficou Brad Wilk, já famoso nos Rage Against the Machine e nos Audioslave. E isto não se nota só nos créditos do livrete; ouve-se a ausência de Bill Ward ali.

Já o álbum em si, é aquele pairar de mediatismo que só se pode acalmar após a antecipada audição – estão velhotes mas ainda estão cheios de força e sabem bem quem são. O disco abre com “End of the Beginning”, uma irmã mais nova de “Black Sabbath” de 1970, e cumpre o seu trabalho de nos avisar que o que aqui se encontra é Black Sabbath na sua forma bruta e como os conhecemos. Daí para a frente somos assombrados pela atmosfera densa que sempre se sentiu nos temas doom tão bem “riffados” e que tão bem representam aquilo que as lendas Britânicas apresentaram ao mundo. Tudo aquilo que é reconhecível neste quarteto – aqui sob a forma de um “trio + 1” – encontra-se por aqui. A voz de Osbourne não pode voltar àqueles anos, mas não se confunde; as letras obscuras já não podem causar o mesmo choque em 2013, mas há a forma inteligente de manter uma postura tongue-in-cheek num tom celebratório da sua própria identidade lírica sem se tornar auto-paródia; e os riffs de Iommi… Pronto, é só deixar o homem riffar que já temos festa, nem que seja da negra. Ele ainda continua a ensinar como se fazem riffs sinistros e arrastados – acelera-se o passo em “Loner” e abranda-se para tons badalescos em “Zeitgeist” – fonte de onde todo o doom bebe.

Não é um álbum perfeito, não tinha como o ser. Os veteranos milionários de hoje já não são os mesmos jovens ambiciosos e loucos que escreviam o seu primeiro disco. O que criaram anteriormente, apenas estão a voltar a explorar actualmente. E o Ozzy enérgico e juvenil que berrava versos blasfémicos nos míticos primeiros discos, agora é um velho senil que pega fogo à cozinha a tentar fazer uma sandes – coisa mais Ozzy que eu já ouvi na vida. Mas eles sabem bem quem são e o que ainda conseguem fazer. Não é o sucessor directo dos êxitos que deixaram na década de maior hype, pois os trinta-e-pico anos que passaram ainda se sentem e bem. Mas quando se fala num álbum de reunião dos Black Sabbath, é nisto que se pensa – temas memoráveis a transpirar saudosismo dos seus grandes dias e a cumprir a difícil missão de acrescentar grandes canções novas ao catálogo. “13” é algo que dá vontade de ouvir outra vez e de deixar a satisfação e regozijo de que os velhotes conseguiram.

Tinham alguma pressão e depois de um período muito conturbado na preparação deste registo, os Black Sabbath podem descansar porque superaram a missão e fica um certo orgulho, até para aqueles como muitos de nós que já nasceram depois deste nome ter descambado e sofrido violentos trambolhões. Porque não só apresentaram um disco suficiente que não magoa o legado – até pelo contrário – e foram capazes de apresentar um produto explorador das raízes – como assim ordenou o Sr. Rick Rubin, homem responsável por fazer este monstro soar ainda mais monstruoso – como também nos forneceram um disco tremendo e um valente conjunto de grandes canções.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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