Em entrevista há umas semanas, Jimmy Fallon, no meio de alguma parvoíce, lá conseguiu dizer uma coisa verdadeiramente interessante: ao contrário do que se poderia esperar, o novo disco de Bon Iver não evoca imediatamente a crueza do Inverno do Midwest. Justin Vernon confirmou: este é um disco primaveril. De facto, há uma pequena revolução no som da banda. Banda? Sim, banda. Este é um dos aspectos que se destaca: ao contrário de For Emma, Forever Ago, Bon Iver é claramente um projecto de grupo, um esforço de conjunto.

Onde antes se ouvia o uivo solitário de Vernon, há agora uma profusão de sons e cor que vão muito para além da experimentação electrónica do EP Blood Bank (de que a faixa inicial, “Perth”, é um bom exemplo). O resultado é inesperado, mas nem por isso menos satisfatório. Nem se pode dizer que seja um daqueles álbuns “difíceis de entrar”: a beleza de canções como “Holocene” e “Calgary” é irresistível, acentuada pelo agora mais frequente desdobramento da voz de Justin Vernon em várias camadas sobrepostas – as harmonias são simples, mas não óbvias.

O falsete, esse, continua o mesmo, embora não tenha o exclusivo das aparições: de tempos a tempos, uma voz grave (a do próprio Vernon) invade a canção, fundindo-se com ele. Mais: há espaço e coragem para tentar novos rumos. Tudo bem que os teclados de “Beth/Rest” roçam perigosamente o foleiro, mas parece-nos exagerado apelidar a música de má. Aliás, depois de tanta coisa boa a banda até podia ter reservado a última faixa do disco para fazer uma “cover” de Emanuel (se nos permitem a sugestão, “Ritmo do Amor (Kuduro)”). Não afectaria, no todo, a qualidade de um disco que merece estar na lista de “melhores do ano até Junho”.

No final, o que fica são quase 40 minutos de música que passam como uma daquelas brisas leves de finais de Março: a correr.

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Arte-Factos

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