//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
20 anos de carreira resistem à prova do tempo e revelam um passado que, contado verso a verso, continua a fazer o sentido que mais desejamos: canções de saudade, de alegria, de solidão, de tardes à lareira, de passeios à chuva ou de sóis de Verão. Seja como ou onde for, a alma de Chan Marshall continua a viver na mesma casa que a viu nascer. Casa essa que, com o passar dos anos, não perdeu por vez alguma oportunidade de se ir remodelando.
Em Moon Pix vimos reinar um lado mais sombrio e sujo, um pesadelo quase emo, onde o sol não se deixava ver, mas que, lentamente, começou a encontrar na figura e na lírica de Chan Marshall forma de chegar à luz e livrar-se das trevas. Cinco anos depois, You Are Free deixou cair a cortina, revelando aquela que é a Cat Power que o mundo mais facilmente reconhecerá. “Everybody come together/Free” é o grito libertário que arrumou com qualquer dúvida. Mais limpo e eficaz, You Are Free começa a debitar balada atrás de balada, ora à guitarra ora ao piano, tendo em The Greatest, uma espécie de irmão mais velho e crescido, que se arriscou cada vez mais a abandonar a leveza da folk e a atacar eficazmente um blues muitíssimo sedutor. Jukebox viria a mergulhar-se ainda mais nessa onda.
O extenso percurso encontra em Sun um desvio que nos leva até um beco sem saída. Cat Power sempre foi música que pedia uma companhia onde todos acabávamos por encontrar um espaço muito pessoal. Esse é um lugar que parece agora esgotado. Chegando a brilhar a um ritmo upbeat, numa toada muito mais pop que folk, Cherokee e Ruin são sol de pouca dura. Escassos são os momentos que saem da sombra e se deixam iluminar pela luz que Chan Marshall teria verdadeiramente imaginado. Sozinha como de costume, Cat Power tenta fazer de si uma banda, saindo muitas vezes ofuscada por uma série de elementos musicais desequilibrados que vão entrando e saindo de cena sem grande nexo. Temas como Always On My Own ou Silent Machine, que enveredam por um lado mais experimental, acabam por se ir embrulhando em ideias confusas que parecem nunca ter chegado a uma forma final decente.
Mais do que uma legítima tentativa em mudar a sonoridade e pisar novos lugares – Chan Marshall sempre provou gostar de fazê-lo –, Sun desliga-se totalmente da identidade que há duas décadas vem sido construída. Chan Marshall continua por cá. Cat Power está mais longe.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)