Circa Survive

Violent Waves
2012 | Sumerian Records | Rock

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Ao quarto disco de originais, os Circa Survive aventuraram-se por um caminho independente e criaram um álbum que reúne em onze temas tudo aquilo que os define.

Mas talvez seja importante contextualizar um bocadinho a forma como chegaram aqui e, como isso acaba por influenciar este Violent Waves. Depois de dois discos lançados através de editoras independentes, a banda mudou-se para a Atlantic Records, uma major nos Estados Unidos, para a edição do Blue Sky Noise, o seu terceiro álbum. Cheio de potencialidade, bastante directo e apelativo, ao qual cheguei a vaticinar algum sucesso comercial em 2010 quando fiz a crítica para este mesmo site, tal não chegou a verificar-se, pelo menos não à escala pretendida pela editora que, decidiu não apoiar a banda neste lançamento da mesma forma que o tinha feito no passado, criando o ponto de ruptura que levou a que ambos seguissem de mútuo acordo caminhos separados.

Com um álbum pronto a gravar e uma decisão importante entre mãos, os Circa Survive optaram pela via independente, sem intermediários, com tudo à sua responsabilidade. A consequência mais imediata e que salta logo à vista e à primeira audição do disco: uma renovada sensação de liberdade.

A começar em Birth of the Economic Hit Man, tema que abre o disco e que tem para lá de 7 minutos de duração. Uma decisão arriscada, mas que funciona em pleno, já que a música flui naturalmente, com diferentes variações que nos mantém atentos durante toda a sua duração, sem nunca parecer que tem o tempo que realmente tem.

Já o grito de revolta e de libertação da banda acontece logo na música seguinte, em Sharp Practice, quando Anthony Green canta no refrão em plenos pulmões “you get what you paid for/ we can’t sell our goddamn souls anymore”, numa clara alusão aos já referidos problemas com a anterior ‘gerência’.

Sem essa pressão adicional, este disco aproxima-se muito mais da complexidade do Juturna, disco de estreia da banda, do que do Blue Sky Noise, por exemplo, no sentido em que há muito mais para explorar e para descobrir por nós próprios. A diferença é que desde então para cá se passaram 7 anos e, enquanto o Juturna – ainda que óptimo -, pecasse por ser um pouco repetitivo, este Violent Waves consolida o crescimento de uma banda que soube aprender e tornar-se uma unidade coesa, com cada disco editado.

Cada músico sabe o seu papel e desempenha-o de forma irrepreensível, dando lugar a que este seja também o primeiro álbum em que entram convidados. Podemos ouvir a voz doce de Rachel Minton (companheira de Green nos Zolof the Rock and Roll Destroyer) em Suitcase e, ainda, Geoff Rickly (dos Thursday) em The Lottery, um tema envolto num ambiente escuro, com um excelente trabalho de guitarras e em que o contraste de vozes ajuda a consolidar a mensagem, tornando-o num dos melhores do disco.

É, de resto, na envolvência das letras do vocalista que entramos no seu mundo, através destas 11 canções sempre muito pessoais mas que de certa forma são igualmente de todos nós. Aliás, infelizmente para ele e felizmente para nós (que podemos depois escutar estas músicas), fantasmas não parecem faltar a Green para exorcizar.

Phantasmagoria é um bom exemplo disso, numa mistura entre o som praticado pelos Circa Survive e o projecto a solo do seu vocalista, com um lado folk mais vincado e uma letra que nos remete para as suas relações falhadas: “God, money, and women will break your heart / Crush your soul, and leave you empty, and torn apart”.

Há até ao final dois pontos altos que vale a pena mencionar, a bonita Bird Sounds e I’ll find a way, esta última que encerra o álbum com chave de ouro e que marca o regresso da banda aos temas de 7 minutos, um a abrir e outro a encerrar, portanto. E ainda que este trabalho tenha músicas que sobrevivem por si próprias, a verdade é que funciona melhor como um todo, são 55 minutos que passam a correr e que valem a pena ser apreciados.

Sem medo de arriscar, é possível que com este Violent Waves os Circa Survive tenham criado o seu disco mais polarizante até à data. Sim, não é tão imediato como o seu predecessor, precisando de maturar dentro de nós com repetidas audições, mas quando finalmente o percebemos, sabe bem, sabe mesmo muito bem.


sobre o autor

Hugo Rodrigues

Multi-tasker no Arte-Factos. Ex-Director de Informação no Offbeatz e Ex-Spammer na Nervos. Disse coisas e passou música no programa Contrabando da Rádio Zero. (Ver mais artigos)

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