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Rotular um disco como Mud é tarefa de contornos quase quiméricos, no sentido em que não é fácil chegar a um ponto de partida, tampouco a um consenso. Por isso, e para me facilitar a vida, vamos partir do princípio que lhe podemos chamar post-metal.
Engulam agora em seco os que proclamaram moribundo o estilo! É bem verdade que é triste viver num mundo onde foram os ISIS errados aqueles que cessaram actividades; custa-nos recordar o facto de os Cult of Luna terem decidido dormir uma longa sesta e o de o último disco dos outrora promissores Mouth of the Architect ser aquilo que se ouviu. No entanto, e para bem da nossa saúde mental, parece que meteram alguma coisa no sistema de abastecimento de água de França, e a pouco e pouco vão brotando projectos interessantes na terra da fraternidade.
Mais impetuosos que as entidades supracitadas, os Death Engine piscaram-nos o olho pela primeira vez em 2013. Foi via Throat Ruiner Records que conhecemos AMEN, um EP sólido que despertava curiosidade e nos deixava, desde logo, adivinhar uma banda focada em encontrar uma identidade própria num mar de cópias de cópias de cópias.
Pois é com lama até ao pescoço que a banda nos acena agora com o seu primeiro longa-duração, Mud. Com inclinações noise, filosofia hardcore e sede de experimentação, Mud enrola-nos em tempestades de distorção, qual shoegaze para homens de barba rija, onde apenas o reverb e o minuto e meio de “Zero”, com a sua guitarra acústica, nos amparam a queda. É a vertigem metamorfoseada em progressões de acordes que nos deixam um sabor a aço na boca. As frequências forjadas numa produção crua q.b., mas ainda assim sem caminhar por territórios crust, são a engrenagem de um mecanismo que isola o ouvinte , empurrando-o para as ruínas industriais dos arredores da cidade.
Não há exílio bucólico em Mud. Mud é urbano. Não há catarse em Mud. Mud é o esgotamento nervoso e o desespero da rotina na selva de betão. Cada vez mais perto de nos tornarmos nos instrumentos dos nossos instrumentos, cada vez mais indiferentes perante o que não nos deveria ser indiferente e mais entusiasmados com o que não deveria interessar a ninguém, Mud é uma ode à compassion fatigue e à triunfante estupidificação das massas.