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Velhos são os trapos! Com 45 anos de carreira e já a contar 19 discos de estúdio, não parece haver vontade de parar para os lendários Deep Purple. Nem a idade dos membros, nem as variadas line-ups parecem surtir qualquer efeito em abrandar estes respeitáveis dinossauros e já fomos brindados o mês passado por este “Now What?!”.
O título do disco parece estratégico, mas quem sabe, poderá apenas ser coincidente. Realmente… “now what?” O que é que falta fazer agora? O que é que os Deep Purple têm agora a provar durante este período de aproximação das cinco décadas de carreira? As obras-primas já estão feitas e bem exploradas por tudo o que seja hard rock, heavy metal e outros primos, – “Deep Purple in Rock”, “Fireball”, “Machine Head” e até certo ponto o retornado “Perfect Strangers” – as asneiras também já estão feitas – “Slaves and Masters” e um pouco de toda a cansada década de 90 – e os nostálgicos discos pós-2000 suficientemente firmes para matar saudades, manter legado e dar força à primeira expressão utilizada neste texto, igualmente – “Bananas” e “Rapture of the Deep”. Então agora com “Now What?!”, será a intenção deste mítico grupo manter a onda dos dois últimos álbuns? Sim e não.
Sim, porque vai na mesma onda de “discos esporádicos dos veteranos a mostrar que ainda sabem fazer umas coisas melhor que muitos jovens”. E não porque parecem ter objectivos muito mais definidos para este “Now What?!” do que para os anteriores. Em primeiro lugar, nem é preciso chegar ao livrete: este disco é um claro tributo a Jon Lord, ex-teclista que nos deixou no ano passado após uma batalha com cancro. E nem é só por questões temporais. Faria todo o sentido que este disco fosse em tributo, mas não é só isso, ouve-se a homenagem. As teclas reinam aqui. Não é Lord quem está a tratar delas, mas acabam por ser elas o “MVP” do disco. Se fosse a avaliar o álbum individualmente para o teclista Don Airey, arrumava-se já aqui o assunto – este é o melhor álbum da sua estadia de 12 anos nos Deep Purple. Solos, assombrosas passagens de órgão, aquele toque setentista progressivo, distorções à la Lord… É o principal foco do disco e onde quer que Lord esteja, com certeza que ele entendeu a mensagem e aprovou.
Outro objectivo será o da banda querer contornar a ideia de andar a “fazer por fazer”, para ir aquecendo e para ter desculpas mais aperaltadas para partir em digressão. Não precisam, mas muitas bandas gostam de comprovar a sua actividade com registos confortáveis e suficientes. Os Deep Purple podem não estar a criar nada nem a aventurar-se muito, mas há um certo empenho em não fazer um daqueles discos de “desde que não soem desorientados já é bom”. Um álbum de impor respeito na prateleira e de vez em quando ser a primeira opção para ouvir, para não ser sempre os mesmos antigos.
Mantêm-se fiéis a uma fórmula de hard rock progressivo old school com uns arranjos e produção moderna para se situar temporalmente. Essa parte é feita com sucesso e as composições também são de alto nível, há aqui grandes temas com calibre para recordação futura, mesmo que se meta de vez em quando alguma canção mais desfavorecida pelo meio. Mas isto é o que está a olho nú, aprofundando sente-se uma vontade da banda se rejuvenescer sem parecer aqueles velhos que querem parecer modernos a todo custo e só fazem figuras de urso. Estes até têm genica para dar umas lições. Há um feeling de jam nos temas que nos transmite que a banda toca com gosto e não por obrigação e que não se quer agarrar ao conforto do seu estatuto. É como se tivessem uma obrigação auto-imposta em fazer um bom trabalho e à qual correspondem com sucesso. A sua “juventude” também é explorada cautelosamente. Este Ian Gillan não pode andar a fazer o que fazia nos seus dias de glória, afinal, a caminho dos 70 anos já vai ele. Ainda surpreende em “Vincent Price”, mas ele já não pode fazer o que fazia. Felizmente não tenta fazer o que já não sabe e dá bom uso ao que ainda lhe resta – que nem é pouco – e dá um tom de maturidade às músicas para criar balanço com a tal “juventude” de toda a performance.
É claro que anda longe dos clássicos – como se a “Smoke on the Water”, a “Child in Time” ou a “Black Night” fossem substituíveis – mas é bem capaz de ser o melhor álbum dos Deep Purple em muitos anos. Mesmo que se junte ao “Bananas” como um exemplo de “não julgues um CD pela capa e pelo título” é só aí que se pode agrupar com outro. É um disco de queixo erguido e a esta etapa da carreira até nem precisavam de tanto. Fica apenas a mesma questão de há muitos anos: por que carga d’água é que ainda não estão no Rock and Roll Hall of Fame?