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Muitos dos que estão agora nos seus late twenties, estão familiarizados com o fenómeno musical do final dos anos 90, que foi o nu-metal. Apesar de associados a essa corrente estética, basta pensarmos apenas por um breve momento para perceber que, de facto, os Deftones sempre tiveram características bem diferentes dos seus supostos pares. É certo que o primeiro disco – Adrenaline (1995) – é um conjunto de hinos que põem teenagers, de calças largas e mochila às costas, a saltar descomunalmente sempre que são ouvidos. Mas é certo, também, que ao segundo disco – Around The Fur (1997) – os Deftones mostraram logo ser algo mais, e consciente ou inconscientemente foram deixando para trás a sua costela nu-metal, que só com um bocadinho de imaginação voltaria a ser reconhecida na sua faceta mais vulgar. Em 2000 editam White Pony – e é aqui que a maioria dos leitores toma conhecimento com a música do colectivo de Sacramento, na California. Muito provavelmente, os Deftones nunca mais vão escrever um tema que seja assimilado tão massivamente como foi Change (In The House Of Flies), que se transformou num dos hinos de uma geração. Também é difícil que consigam gravar um disco mais coeso, intenso e com canções tão fortes em atmosfera, como era o disco que continha temas como Digital Bath, RX Queen, Knife Party ou Passenger, entre tantas outras. O zeitgeist não o permite.
Feito que estava aquele que seria o disco pelo qual a banda seria reconhecida, os Deftones vacilaram. Editam o disco homónimo (prova da desinspiração por que passavam?) que foi um pequeno fracasso, não em termos comerciais – longe disso – mas em termos criativos. O disco vagueava por canções que não aqueciam nem arrefeciam muito e, com a devida distância temporal, é fácil dizer, hoje em dia, e sem qualquer cinismo, que apenas três ou quatro temas do disco são motivos de orgulho.
Segue-se em 2006, Saturday Night Wrist que é uma tentativa de diversificação do caminho até então traçado pela banda. Introduzem apontamentos mais técnicos, outro tipo de ambientes e mais experimentalismo. O resultado foi misto e depois a banda passou tempos ainda mais complicados. Chi Cheng, baixista, sofre um acidente de carro e até hoje se mantém em estado, mais ou menos, vegetativo. A banda tinha gravado EROS, mas decide colocar as canções em stand-by e entrar num novo processo criativo. Chamam Sergio Vega para substituir Cheng e gravam Diamond Eyes, que vê os Deftones de volta ao seu melhor. O disco é mais directo e enérgico e é, curiosamente, com esta formação que se sente a banda mais coesa. Agora, de novo, o grupo norte-americano tem a função de escrever um disco que possa sobreviver a outro momento de elogio da crítica, como foi Diamond Eyes. Desta vez, ao contrário do que aconteceu em 2003, os Deftones não desiludem e até sobem um patamar.
Koi No Yokan (que significa Premonition Of Love em japonês) é o melhor disco dos Deftones desde White Pony, esse autêntico fantasma ao qual tudo se comparará.
O novo registo vê o grupo desacelerar um pouco em relação ao anterior trabalho, e concentrar-se mais na força das canções.
A abrir, somos brindados com SwerveCity, uma das canções mais simples e directas do disco, sendo também a mais pequena. A seguir a esta segue-se Romantic Dreams – um título que, de certeza, fará Stephen Carpenter torcer o nariz, conhecido que é o seu “ódiozinho” por nomes destes – que mostra a melhor a natureza daquilo que os Deftones querem explorar em 2012. Leathers é uma enorme malha. Peso, melodia e ao mesmo tempo as doces texturas de Frank Delgado. Faz-nos lembrar uma Back To School, mas aqui a raiva teenager foi trocada por um desapego quase trintão, muito mais subtil. Na seguinte – Poltergeist – mais um belo refrão, que abre espaço para respirarmos por entre os riffs à Meshuggah – Carpenter e os suecos usam o mesmo tipo de guitarras – há um sample percussivo que pode soar estranho, mas que, após algumas audições se transforma em algo necessário.
Entombed segue a onda de uma Sextape, e isto é o mesmo que dizer que somos seduzidos pelas melodias plenas de erotismo de Chino Moreno. Já em Graphic Nature é a vez de Abe Cunningham brilhar, mas sempre soubemos que ele era um dos bateristas com maior groove de toda a cena nu-metal. Até aqui, os temas foram fortes, musculados e melódicos, mas em Tempest tudo muda de figura. É o hino do disco, que segue a linhagem de uma Change, KnifePrty ou Minerva. As seguintes – Gauze, Rosemary e GoonSquad – são intensas, muito texturadas, dão mais espaço ao ouvinte para respirar e mais experimentais, ao passo que na última – What Happened To You – os Deftones aproximam-se perigosamente do shoegaze dos My Bloody Valentine ou Slowdive, mas este perigo é delicioso.
Em suma, há mais atmosfera melancólica nas músicas que compõem Koi No Yokan. Atmosfera daquela que eles vão buscar aos tempos em que ouviam The Cure, de quem ainda se confessam fãs, durante horas na adolescência. Há até a tradução de alguma desta atmosfera em algo doce como o algodão, e assume-se sem medos, que há a adição de alguns elementos de Dream Pop, fazendo deste o melhor disco dos Deftones em 12 anos.