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Os Depeche Mode já não precisam de qualquer tipo de apresentação para alguém que tenha, no mínimo, um ouvido funcional. Ao décimo-quarto álbum, “Spirit”, o colectivo britânico traz uma atitude revolucionária e uma faceta política que não é, por norma, a que mais se lhes associa. Inevitável nos agitados e assustadores dias de hoje. E logo após terem a “honra” de serem destacados por um “artista” neo-nazi, que anda por aí a ser esmurrado em frente a câmaras, como a banda ideal e representativa de tal ideologia. Más notícias para o indivíduo: não vai gostar nada deste novo álbum.
Boas notícias para os restantes: não há qualquer sinal de baixa forma para os Depeche Mode e parece que toda esta raiva anti-sistema lhes injectou uma outra energia, algo que os rejuvenesceu. Sem que se possa apontar algo à sonoridade do álbum além do mais típico Depeche Mode e uma colecção de óptimas canções fortes, de se alojar no ouvido, em perfeita execução.
A veia política já se notava no potente single “Where’s the Revolution” e encontra-se ao longo de todo o disco, em supremacia. Mais reduzida, a habitual sensualidade, melancolia e outros devaneios amorosos mais ou menos carnais, sexuais e fetichistas que muito se associaram aos Depeche Mode durante bem mais de três décadas de carreira. Se realmente acham que já não seria bem a mesma coisa ter homens de meia-idade a escrever mais uma “Master and Servant”, estes cinquentões estão bem mais atentos às notícias e não escondem o medo, com um raio de esperança, pelo futuro, de quem atravessou uns negros e tensos anos 80 e um movimento new wave que tanto nisso se baseou.
Temos a reflexão de “Going Backwards” que afirma que estamos a andar para trás, a contra-evoluir. Há o tal medo abordado de forma mais melancólica em “The Worst Crime”, há uma raiva bem mais directa e insultuosa na destacável “Scum”, a crítica social em contar de história de “Poorman”, um lado protector e esperançoso na interlúdica “Eternal” e até a auto-crítica e mea culpa que Martin Gore canta no seu reconhecível tom tremido na conclusiva “Fail”. Os Depeche Mode mais críticos que vimos na sua longa e bem galardoada carreira. Por vezes revestem estes temas de uma atmosfera negra e pessimista, outras vezes trazem o espírito dos seus tempos, da década de 80, de pavor de desastre nuclear, mas com a atitude de que mais vale dançar sob a “mushroom cloud”. Não deixam de faltar aqui temas de uma electrónica contagiante e com o lado dançável dos Depeche Mode bem patente.
Esse lado também se sente mais noutros temas de “Spirit” que não se colem tanto à crítica e à política e procuram um balanço. Não deixa de haver aquele lado mais sexy, que também sempre os caracterizou, como na também destacável “You Move”, a irromper por entre a melancolia baladeira da desesperada “Cover Me” ou numa surpreendente “So Much Love” que parece tentar atirar-nos para a década de 80 e para o meio dos seus êxitos daqueles tempos, com as reminiscências que essa canção carrega. E se procuram também esse tal lado mais baladeiro do grupo, não há aqui uma “Precious” propriamente dita, mas há uma “Poison Heart” e “No More (This Is the Last Time)” tem um pessimismo muito fácil de cantar e até dançar junto.
É um disco muito completo mas que não deixará de ter algumas falhas aqui ou ali. Nada de levar à cruz, já não são uma banda com algo a provar e já bem longe vão os tempos de um “Violator”, ou de um “Black Celebration”, ou de uma dupla infalível como “Construction Time Again” e “Some Great Reward”. Mas se uma banda consegue fazer uns discos como esses, que assim à tolo até se podem dizer que são perfeitos ou roçam-no, ainda têm o que é preciso para um bom álbum em 2017. E com esta atitude abrem aqui uns pequenos horizontes, mantêm-se bem competentes na sua sonoridade e assinam um muito bom álbum. Eles até podem estar a ver o mundo a perder o rumo e o jeito. Mas eles é que não o perdem.