Enablers

The Rightful Pivot
2015 | Atypeek Music | Rock

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Enablers. Se não são, deveriam ser uma banda especial para o público português, e digo isto pelo simples facto de estarmos a falar da banda que esteve na génese da irrepreensível Amplificasom enquanto suma entidade organizadora de concertos em terras lusas. Mas o cardápio de boas referências destes californianos fustigados pela calvície é mais extenso: podemos referir que é rara a review em que os Slint não vêm à baila – no entanto, impõe-se sublinhar que já vem sendo tempo de deixarem os Enablers colher os louros do seu trabalho sozinhos, não precisam de muletas -; que têm na sua formação ex-membros dos Swans; e também que os primeiros dois discos destes meninos, End Note (2004) e Output Negative Space (2006), foram apadrinhados pela Neurot Recordings.

The Rightful Pivot, o quinto longa-duração no catálogo dos Enablers, é feito da mesma finesse dos discos que o precedem, traz-nos um pouco de tudo o que a banda tem feito desde o início da sua actividade, apresenta-nos novas facetas e sugere caminhos a desbravar em lançamentos futuros.

Sem pretensões de quem apenas tem a mania que é poeta para pertencer a um qualquer clube de narizes empinados, Pete Simonelli observa e descreve. Sem entoações histéricas despropositadas, sem teatralidade oca, sereno e com os olhos atentos de um fotógrafo de rua, observa sem se fazer notar, e conta-nos a história sem rodeios, sem dramas e sem eufemismos. As guitarras, menos dissonantes que em Blown Realms and Stalled Explosions (2011), ora nos remetem para a tranquilidade depois da tempestade, ora nos fazem revisitar um clima desgovernado propenso a neuroses.

Mais confortáveis do que ninguém nas lides do que, de certa maneira, se pode chamar spoken word-based music, os Enablers fazem da sua labuta uma fonte de imagens mentais. Resta apenas sublinhar que o stream-of-consciousness de Simonelli não merece mais atenção que toda a orquestração que o sustenta. O matrimónio entre os instrumentos e a voz faz-se de uma perfeita simbiose, e não podia ser mais feliz.


sobre o autor

Ricardo Almeida

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