Four Tet

Pink
2012 | Text Records | Electrónica

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O rasto deixado por Four Tet há muito que escreveu uma página na história. Ser-se fã do género e passar ao lado dos memoráveis Rounds There Is Love In You não poderá passar na verdade de um desencontro histórico. Dificilmente se encontra melhor argumento para confirmá-lo do que escutar verdadeiras epopeias como Unspoken ou Love Cry, dois dos melhores exemplos do precioso intelecto de Kieran Hebden e que desenham na perfeição a sua pegada musical. Do minimal ao jazz, das formas orgânicas às mais maquinais, da cor ao negrume, a ziguezagueante viagem Four Tetiana nunca desiludiu ninguém.

O lançamento de Pink constitui um marco ao encerrar dois anos que musicalmente viraram costas à sonoridade mais caleidoscópica e hipnotizante praticada em There Is Love In You. Dois anos onde Keiran Hebden tudo fez para estar presente, lançando um conjunto de singles que agora ganham finalmente uma casa.

Ao longo de uma hora, Pink vai desvendando cada um dos seus (já conhecidos) enigmas, erguendo em cada tema um arranha-céus de camadas que se vão fazendo sentir a cada audição. Four Tet volta a construir com o seus jogos de infinitos loops, temas cada vez mais virados para a pista de dança, deixando definitivamente de fora um lado mais experimental e cinematográfico que marcou os seus primeiros anos de existência.

Ouça-se Locked, canção que não chega a descansar na sua aparente calma, adiando interminavelmente o drop que nunca chega a fazer-se ouvir. Bem mais possante, Pyramid confirma a tendência de que Four Tet almeja com Pink a uma dança bem mais física e musicalmente aproximada do glitch e do dubstep. Ocoras e 128 Harps são igualmente punchy, sendo apenas com Peace on Earth que Four Tet regressa ao seu lado lunar, embarcando o ouvinte numa viagem celestial, uma espécie de bailado cerebral que só com Keiran Hebden conseguimos ter acesso.

Mesmo que Pink se veja amputado do efeito surpresa que a qualquer novo álbum é vital e mesmo que aqui cada canção viva demasiado fechada para si mesma, o último capítulo desta belíssima história não envergonha o seu passado. Como seria de esperar, Keiran Hedben continua a germinar acima de tudo canções Four Tet, canções do amanhã, canções de outros universos, canções que não caducam. A isso chama-se intemporalidade. E quando se brinca com esta coisa chamada arte, que mais se pode querer?


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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