//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Quando nos chega “Trumpeting Ecstasy”, nova proposta dos Full of Hell, já se aceitou uma coisa. As descargas do powerviolence e dos seus fortes empurrões da música extrema têm vindo a tornar-se moda. Actos como os próprios ou outros porta-estandartes como os Nails têm vindo a desfrutar de muito reconhecimento e sucesso nos últimos tempos. No caso dos Full of Hell, justifica-se o virar de cabeças na sua direcção. Para a berraria incessante que este género representa, o grupo faz as coisas de forma diferente.
Muita atenção atraíram com os seus discos colaborativos. Injectaram a sua já ruidosa música com puro e duro noise ao aliar-se ao pai Japonês de tudo o que seja ruído desagradável, o famoso Merzbow. Originou um aclamado pesadelo em disco. Quiseram escurecer mais a coisa com ambientes medonhos de outra dimensão e aliaram-se a outra dupla que tem vindo a desfrutar de recente hype: os The Body. Sai mais um bicho raro, um belíssimo susto de álbum. Os lançamentos mantiveram-se sempre regulares e assíduos e agora com “Trumpeting Ecstasy”, os Full of Hell encontram-se de novo sozinhos. Mas intimidam tanto ou mais do que acompanhados.
A primeira coisa a apontar é que as influências deixadas pelos seus antigos colaboradores mantêm-se mas passam para segundo plano e aparecem de forma mais reduzida. Dylan Walker ainda gosta de brincar com o seu pedal/kit caseiro de fazer barulho e feedback mas não brinca tanto com ele por aqui. Os ambientes tenebrosos dos The Body vão sempre marcando presença – e Lee Buford chega mesmo a tratar da batida da faixa-título – mas para o novo disco, o grupo despe-se um pouco dessas influências e apresenta uma castanhada contínua mais tradicional mas mais à sua maneira. Com pormenores a diferir aqui e ali, “Trumpeting Ecstasy” é uma exibição de cacofonia mais uniforme que as suas anteriores propostas. Mas ainda assim tão variado e com tanto a acrescentar.
Pelo meio de toda a descarga de violência, de petardos de grindcore seguidos, com muitos a não chegar ao minuto de duração, como já se fez tradição, aparece pelo meio “Crawling Back to God” a “organizar” melhor o frenesim dos riffs e a mostrar que, noutra vida ou com outra vontade, os Full of Hell até podiam ser uma banda de death metal. O chavascal estende-se até chegar à perfeita faixa-título, um enorme destaque. A faixa que mais difere. Mistura uma batida de Lee Buford dos The Body com os rugidos de Walker e o seu brinquedo de noise/power violence, riffs lentos e o factor principal: a dócil voz de Nicole Dollanganger – que já se fez famosa por embaladoras canções de dream pop com temas líricos violentos e pesados – a contribuir para o seu ambiente assustador. Canção mais aterradora mas, muito possivelmente, a mais bela obra-prima de toda a discografia dos Full of Hell.
E vai tudo culminar em “At the Cauldron’s Bottom”, que lá parece atafulhar todo o basqueiro anterior nos seus seis minutos e meio de duração, deixando também assentar a poeira com alguns riffs mais lentos que pedem qualquer coisa emprestada ao black metal e ao sludge.
No total ficam 23 minutos, o suficiente para um álbum destes. É de impacto imediato e é o ideal para o corpo conseguir aguentar. E sai um grande disco com tanto feito em tão pouco tempo. Pode muito bem ser o seu melhor, o que se debate sempre, dado o valor afincado que se atribui à sua selvajaria primordial, com que se deram a conhecer. Mas é um tremendo álbum, a culminar tudo o que já experimentaram e a provar que afinal até vale a pena seguir algumas modas se forem assim. Porque os Full of Hell aqui provam que não são nenhum “flavor of the month” e ainda têm muita porradinha para dar.