Galgo

EP-5
2015 | Edição Autor | Rock

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À altura desta review EP5 ainda não foi apresentado ao vivo e os Galgo ainda não subiram ao palco do Jameson Urban Routes. Se tudo correr bem e não houver complicações editoriais estamos a meras horas de ouvir ao vivo o primeiro registo da banda que decidiu ignorar todas as convenções de ordenação e começar a sua discografia pelo quinto EP.

Terá sido uma boa decisão. Evitar a fase embrionária do que teriam sido os primeiros quatro permite saltar diretamente para um trabalho mais sólido e polido. Cortesia dos BlackSheep Studios, EP5 opta por um som límpido, com ênfase nos baixos que não poderia assentar melhor às composições dos Galgo.

Algures entre o synth, o math, o post e outros prefixos rock que já não querem dizer muito, EP5 é um álbum que vive mais do seu compromisso com a secção rítmica do que da adesão a um estilo. Claro, há aqui comparações a fazer com os Battles e com os PAUS, mas quando também ouvimos Two Door Cinema Club em “Dromomania” o melhor é abstermo-nos de comparar para evitar confusões.

Baixo e a bateria são o cerne dos temas, dão-lhes corpo e motivação, e ditam ordens aos restantes instrumentos. Não é justo dizer que estes últimos estejam relegados para um segundo plano, antes servem de pequenas “set pieces” ao longo de todos os temas. As frases da guitarra surgem espasmodicamente e convivem numa relação extemporânea com a parede de som construída pelo sintetizador. Quanto à voz, quando surge é sempre inesperada, mas francamente injustificada.

Já que há o trabalho de cantar, dizer qualquer coisa seria simpático.

EP5 não é fácil de explicar para além do que a custo se conseguiu nestas linhas. Deste lado, estamos desejosos que o pós-modernismo passe e que o autor ressuscite para termos um semblante do que alguém que faz arte quer expressar com ela.

Num registo que se inibe de dar de barato o que pretende – se é que pretende alguma coisa – há que elogiar a elaboração de uma fórmula capaz de construir vários ambientes que apesar de contidos em si mesmos fazem parte de uma experiência holística.

Destaque-se “Torre de Babel” como um exercício bem conseguido. O tema começa com uma linha de guitarra saturada de eco que cria um efeito em contraponto que, assumimos, é uma referência a multiplicidade de línguas que resultou da construção frustrada da torre. Ao contrário do que sucedeu com a torre, Nosso Senhor não surgiu a meio para estragar este tema, mas a acção está representada no efeito de rebobinação – leia-se, desconstrução – com que o tema encerra.

Pode também não passar de uma referência elaborada à homónima telenovela da Globo com Tony Ramos no papel principal.

Nunca saberemos. A única pista que temos é “Tigre é forte, mas papel é frágil”.

EP5 pulou a inexperiência e revelou uns Galgo donos de si e do seu som. Os quatro temas que preenchem este registo não dão espaço de manobra às habituais recomendações. Reconhecemos o mérito de manter o número de faixas baixo para evitar que este trabalho pudesse exceder a sua estada e apontamos um défice de variedade na sonoridade, mas só porque não podíamos passar a crítica inteira a tecer elogios.


sobre o autor

Jorge De Almeida

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