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Nunca as palavras que esboçam a paisagem de “Dead Flag Blues”, em F# A# ∞ (1997), foram tão pertinentes:
“The car is on fire, and there’s no driver at the wheel
And the sewers are all muddied with a thousand lonely suicides
And a dark wind blows
The government is corrupt
And we’re on so many drugs
With the radio on and the curtains drawn
We’re trapped in the belly of this horrible machine
And the machine is bleeding to death”
Dois projetores de 16 mm no centro da sala. No pano a palavra ‘Hope’. Amplificadores e instrumentos aguardam no seu torpor, inúteis sem mão que lhes pegue. Aguardamos também, pacientes. Os GY!BE não tardam a subir ao palco e, sem cerimónias, a iluminarmos a alma. Lift Your Skinny Fists Like Antennas to Heaven.
Não precisam de escarrapachar a cara de um qualquer filósofo existencialista em lado nenhum para nos falarem de esperança. Não precisam de discursos eloquentes, nem de imagens de criancinhas a trabalhar em fábricas do outro lado do mundo para fazerem música, ainda que sem voz, com consciência social e política – como alguém disse, “é triste que os Godspeed You! Black Emperor tenham de fazer, ainda, música com inícios melancólicos (…)”. Também não precisam de pessoas como eu a opinar na internet; dispensam tudo isso, mas ainda assim são aqueles tipos porreiros que nos sorriem fora do palco. Simplesmente, não estão interessados em grandes alaridos e hypes em torno de eles mesmos – e é por isso que os respeitamos tanto.
‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend! A música, na sua universalidade, transcende o carácter interventivo que motivou a sua criação. Os GY!BE enchem de esperança os que julgavam já não a ter. Enchem-nos o peito; e não os podemos culpar se não caminhamos de cabeça erguida – afinal são apenas humanos. Tu, que não dormes como deve de ser há mais de um ano; tu, cujo amor da tua vida te deu um majestoso pontapé no cu; tu, que todos os santos dias suspiras um “f*d#-se!” ao acordar; E tu, que desejas que cresçam miraculosamente papilas gustativas no ânus do teu chefe, agarra-te aos GY!BE e manda o mundo inteiro para a grandessíssima meretriz que o pariu!
Quanto a este quinto longa-duração dos canadianos: poder-se-á dizer que um disco peca por soar demasiado bem? Pois assim é com Asunder, Sweet and Other Distress, ou mais uma encarnação de “Behemoth”, a faixa que vem sendo tocada ao vivo desde 2012 e se materializa agora via Constellation Records. Menuck e companhia pegaram o bicho pelos cornos, fizeram dele o que quiseram, e eis que nos servem a sua carcaça devidamente confecionada. Armado o grande festim, atiramo-nos a espumar da boca aos quatro nacos de “Behemoth”. Deliciamo-nos agora, nós, reles burguesinhos com camisas de lenhador, que não tivemos tomates para caçar o bicho, mas não deixamos de opinar a respeito do tempero.
A verdade é que dos grandes mestres espera-se obras maiores ainda, e se se pode apontar alguma coisa a um disco como Asunder, Sweet and Other Distress é apenas o facto de este ser demasiado fácil de digerir. Não que seja simplista, mas parece que os senhores de Montreal optaram por se manter dentro da sua zona de conforto. Em 2012, ‘Allelujah! Don’t Bend! Ascend! não se apresentava tão inofensivamente, com “Mladic” – essa besta julgada por crimes contra a humanidade – a desarmar-nos nos seus monumentais 20 minutos.
Completo desgoverno para alguns, a zona de conformo dos GY!BE é um dos mais bonitos lugares debaixo deste sol que insiste em erguer-se todos os dias – comprovemo-lo no tema “Piss Crowns Are Trebled”. Enquanto o mundo como o conhecemos parece estar a dar as últimas, os GY!BE escrevem diligentemente a mais adequada das bandas sonoras.