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O death/grind, em toda a sua violência e podridão, é um género que atravessa uma boa fase no nosso país, com vários grupos mais jovens – uns mais sérios, outros mais para a galhofa – a representar bem o género cá dentro e lá fora. Mas não andam cá a substituir ninguém porque a malta da velha-guarda ainda está de boa saúde e continuam a ser dos melhores representantes por cá. Falo de bandas como os Holocausto Canibal ou, claro, destes Grog, que qualquer pessoa mais distraída não diria que já têm mais de um quarto de século de existência.
É aliás algo difícil de assumir pela quantidade de edições, sendo este “Ablutionary Rituals” apenas o seu quarto longa-duração. Os Grog não são uma banda de pressas e são suficientemente gentis para nos deixar recuperar da sova que é cada novo disco, antes de nos presentearem com uma nova descarga. Também é difícil de assumir essa idade, que costuma pesar, a julgar pela energia e velocidade que aqui se encontra. Este “Ablutionary Rituals” é bem capaz de ser o seu disco mais frenético até agora. O que mostra que, mesmo que não estejam aqui a inovar ou inventar grande coisa e que mesmo que já tenham um estatuto de respeito incontornável na cena, ainda são uma banda que quer andar para a frente e evoluir.
Repito-o: os Grog não vêm inventar nada aqui. “Ablutionary Rituals” é um disco de deathgrind como mandam as suas doentias leis: uma descarga imediata e directa de peso, velocidade, violência, barulho, podridão e vocalizações monstruosas. Quer-se tudo envolto em riffs rápidos e impetuosos e rugidos assustadores. É um género ao qual não se pede grande inovação, apenas se quer bem feito. E, felizmente, os Grog sabem apresentá-lo muito bem feito. Há tudo isso e mais qualquer coisa neste álbum, feito de forma exemplar. Assim que acaba a introdução “Revelation – Open Wound”, começa a descarga que percorre os restantes temas que, mesmo com pouca distinção entre si, constituem um total violento, avassalador, que agarra o ouvinte pelos colarinhos e o deixa exausto, sem alento mas com o mórbido e masoquista desejo por mais.
Mas se ainda cabem novidades, é apresentá-las. O riff inicial de “A Scalpel Affair”, antes do caos propriamente dito entrar, até pode surpreender um pouco e o solo de “From Disease to Decease” até pode mostrar que nem só de brutalidade se faz isto e que cabe aqui um pouquinho de exibicionismo. Mas não é nada disso que leva a taça daqui. É mesmo a longa e conclusiva “Katharsis – The Cortex of Doom and the Left Hand Moon”, um grande destaque deste álbum, que vem acalmar todo o chavascal com um ambiente lento e aterrador, com texturas industriais e em jeito de spoken word agressivo, vociferado pelo icónico Rui Sidónio, dos Bizarra Locomotiva, de forma que só ele conseguiria – e pronto, talvez um Adolfo Luxúria Canibal, a quem lembra em certos momentos.
Igualmente difícil é individualizar alguém no grupo, com o guitarrista Ivo Martins ainda a ser uma máquina de riffs – há pescoço que resista à reacção imediata perante “Gut Throne”, por exemplo?; Alex Ribeiro a impor o seu baixo ruidoso, que se sobrepõe ao restante nos momentos certos, e que não fica a dever nada à fúria e ao estardalhaço que a guitarra cause; Rolando Barros na bateria a ditar a estonteante velocidade que somos obrigados a seguir como podemos e, claro, Pedro Pedra ainda a impressionar, não só com a sua voz ridiculamente versátil a grunhir de todas as diferentes maneiras possíveis, mas também pelo lado lírico, com letras que acrescentam um lado filosófico a toda a demência.
“Ablutionary Rituals” no final até pode nem passar daquilo que se esperava dos Grog, mesmo que tenha os seus pormenores e a sua evolução e distinção em relação aos antecessores. Mas também era o que se queria dos Grog e está aqui um grande disco de deathgrind, de destaque, e não só a nível nacional. Agora é possível que tenha que se esperar mais um bom tempo até um sucessor, como já é costume. E tudo bem, que se valorize a qualidade em vez da quantidade. E também dá jeito um tempinho para deixar as feridas deixadas por esta sova sarar à vontade.