HIM

Tears on Tape
2013 | Razor & Tie | Love Metal

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A banda Finlandesa já conta com 22 anos de carreira desde a sua formação e 16 anos desde o lançamento do introdutório “Greatest Love Songs Vol. 666”. Já ultrapassaram aquela que possivelmente seria a idade média da sua base de fãs – não geral – e como qualquer banda cujo “cheiro” não agrada a qualquer nariz, encontram-se a batalhar com o costume: relevância.

Já em 2013 e com a sonoridade HIM mais que estabelecida, a banda apresenta-nos “Tears on Tape”, o seu oitavo álbum de originais que não parece expor grande preocupação com questões de relevância. Até se sente uma certeza na sua abordagem – os HIM sabem perfeitamente o que querem fazer a este ponto da sua carreira: ser os HIM. Mesmo soando iguais a si mesmos, é o passo ideal para uma banda destas.

Existe muita familiaridade neste disco em relação aos anteriores, mas como defesa, a banda pode lembrar-nos que têm uma fórmula própria e que resulta. O auto-proclamado “love metal“, o romantismo catastrófico e o casamento entre amor e morte que Ville Valo tanto gosta de descrever nas letras, a sonoridade pop das melodias eficazes de mão dada com um caótico hard rock gótico que de vez em quando tem um aroma doom. Já nos é conhecida a fórmula e ainda é o índice que a banda segue na concepção de um novo disco, cabendo a nós distinguir os registos através dos pequenos pormenores. Pode-se considerar que seja uma banda que se mexe, mas sem ser para a frente ou para trás. Uns passinhos para os lados só.

Pode incomodar muita gente, mas não há muitas razões para levar “Tears on Tape” à cruz – a não ser que a banda já lá esteja há muito tempo para muitos, claro. Mais uma vez são os HIM a ser HIM e a fazê-lo de forma credível. E com a intenção de não fazer um “Screamworks, Part 2”. As metáforas sofridas do antecessor foram de novo substituídas por temas directos e a própria fúria da voz de Valo abranda – já não há necessidade do Finlandês gritar tanto nos temas, aqui já está mais calmo e mantém o tom suave e sedutor que identificámos aos primeiros segundos. Para contrastar a essa parte, como sempre fazem, rematam com um forte trabalho de guitarra. “Tears on Tape” chega a ser o álbum do grupo mais orientado por guitarra em muito tempo e mesmo piscando o olho ao sólido “Venus Doom” muitas vezes, predominam riffs de base mais intensos e carregados.

Mikko Lindstrom, o guitarrista, toma partido do facto de ser genro do mítico Tony Iommi, para surpreender com uns riffs bem à Black Sabbath. “All Lips Go Blue” – logo a primeira faixa a entranhar-se – “Into the Night” ou “W.L.S.T.D.” tiram quaisquer dúvidas sobre a integridade dos riffs nos quais as canções se constroem. A única coisa que talvez se possa questionar neste disco é a utilidade das interludes, assim como a introdução e conclusão, que não parecem acrescentar muito ao que já lá estava, mais parecendo estar aqui a fazer tempo e número. Não fossem as melodias e composições dos outros temas tão sólidas e confiantes e podia-se pensar que este era um disco desinspirado e preguiçoso. De resto, não se vê onde é que a banda possa ter pecado. Se pecaram, foi já ao início quando exploraram uma sonoridade própria que, goste-se ou não, é inteligente.

Soa a HIM, é aquela linha entre o pesado e o não-pesado que deixa a cabeça de puristas a andar à roda, ainda tem as letras capazes de agradar a uma adolescente de eyeliner carregado e o Ville Valo ainda manda aquele soluço chorado agudo no final de alguns versos, como sempre fez. Mas era o mais correcto a fazer nesta altura do campeonato. Mais um passo para o lado mas ainda não se desequilibraram. Porque, como já disse, todos estes anos depois e com uma discografia já respeitável, os HIM estão bem seguros do que fazer para se manter em forma: ser os HIM.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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