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Nada fez mais pelo endeusamento de Jack White como o fim dos White Stripes. É certo que, desde a viragem do século, não houve lista de “melhores guitarristas” que não o incluísse, e que a Seven Nation Army se transfigurou num neandertal Oooooh oh oh Oh Oh Oooooh Ooh ecoado em estádios de futebol um pouco por todo o mundo, mas, fora da imprensa musical e de círculos mais melómanos, Jack White era tão somente o guitarrista “daquela banda que são só dois, né?”.
Até ao fim dos White Stripes – vá, se calhar não bem no fim, mas até aquele momento em que a ausência prolongada de discos deixou de ser ignorável – não havia assim um tão grande consenso quanto à destreza em seis cordas e toque de midas do senhor White. Façamos o teste, repita comigo: Icky Thump foi lançado em 2007, um ano depois os Raconteurs lançam Consolers of The Lonely. Em que ano é que eu ouvi este último?
Vê onde quero chegar?
Deixai que desenvolva a ideia. De um momento para o outro, na mente colectiva de todos os que foram apanhados pela notícia do fim dos White Stripes, Jack White passa a ter ícor a correr-lhe pelas veias e muda de residência de Nashville para uma vivenda com piscina no Olimpo. Num ápice, toda a gente descobre que os White Stripes são a banda de culto de – drum roll, please – TODA A GENTE, e o homem, agora semi-deus, da guitarra blues mais zangada de sempre, passa a ser elevado à categoria de “melhor guitarrista” e génio musical por gente que não distingue uma fender de uma torradeira singer.
Serve esta introdução para expôr o quê, para além das toadas ligeiramente snobs do perfil de quem a escreveu?
Que “Blunderbuss” é, quando desprovido de todo o misticismo em torno do seu autor, em toda a sua glória, um álbum perfeitamente banal e, muito provavelmente, o mais insonso de todos os álbuns a que White viu o seu nome associado. Infelizmente, calhou ser logo no seu debutante trabalho a solo.
A vantagem de se ser um Jack White é que até o álbum que, por comparação a toda a obra que está para trás, não passa de mediano, é, ainda assim, bom. É, aliás, sintomático de um ano, um tanto ou quanto fraquinho, que Blunderbuss seja, para já, um dos melhores álbuns de 2012.
Blunderbuss corrobora a teoria de que as adversidades e as limitações são, não raras vezes, a força motriz por de trás da criatividade. Com os Raconteurs e Dead Weather havia que conciliar vontades entre todos os membros e nos extintos White Stripes havia que superar os limites auto-impostos por White. Agora com rédea solta Jack White parece não saber bem o que fazer.
“Sixteen Saltine”, o momento mais familiar do disco, são quatro acordes e distorção para a frente. Um riff pouco inspirado que soa a tantas outras coisas do catálogo dos White Stripes, mas não tão bom.
“Love Interruption”, é audaz ao explorar novas nuances do romance macabro, mas afigura-se a esse propósito demasiado gratuito. “I want love to murder my own mother and take her of to somewhere, like hell or up above” é de partir o coração.
Soa a country chapa cinco e, ainda que chegue a causar alguma excitação pelo ímpeto que carrega, a melodia nunca se resolve, o que nos deixa ligeiramente embasbacados e com a sensação de que sabe a pouco.
São estes os singles de apresentação de Blunderbuss, e até agora não agoiram nada de fantástico.
Fundamentalmente, o que falta a Blunderbuss, por comparação aos White Stripes é um certo apelo pop dos riffs e melodias. Salvo, uma ou outra excepção, é tudo perfeitamente olvidável.
“Missing Pieces” bem tenta a “trifeca” instrumental, mas invariavelmente, qualquer linha melódica que se queira imiscuir no nosso subconsciente acaba por se perder. “Freedom at 21”é um erro tremendo a vários níveis. Não só a guitarra parece completamente desinspirada, como a opção de fazer soar a bateria a alguém a abanar folhas A3 de cartolina não se compreende. Mais de metade da canção é para esquecer, é pôr a tocar a partir do minuto e quarenta e ignorar que o resto existe.
“Blunderbuss”, surge por esta altura como a estrela emergente deste plantel de temas. Facilmente, um tema que imaginaríamos a fechar de forma muito complacente este álbum. “Doing what you people need, is never on the menu” canta White a certa altura. Uma atitude respeitável e valha-nos isso, saber que White há de ser sempre a figura meio obscura e fascinante independentemente do que aí venha.
“Hypocritical Kiss” e “Weep Themselves To Sleep” padece do mesmo mal que Sixteen Saltine. Neste caso não soam a White Stripes, mas a Raconteurs. São, respectivamente, “downgrades” de “Old Enough” e “Carolina Drama”.
“I’m Shakin”, é testemunho da capacidade de White tornar uma canção sua. Pedida emprestada a Little Willie John é o melhor momento deste Blunderbuss e é de aproveitar todos os segundos para dançar porque não há muitas ocasiões para o fazer.
“Trash Tongue Talker”segue na mesma vertente dançável, desta feita, com um convite feito a piano para um pezinho de dança com um par dos anos 50.
“Hip (Eponymous) Poor Boy” e “I Guess I should go to sleep” são canções para bar. Para levantar canecas, cantar a plenos pulmões e esperar que a ressaca seja misericordiosa. Funcionam neste contexto, suponho, mas para lá de um exercício de género têm um propósito muito limitado.
Quase a fechar temos “On And On And On ” e custa-me, muito sinceramente, voltar a ouvi-la de fio a pavio para consolidar os meus pensamentos sobre ela. É “acountryzada”, tenta ser algo profunda e falha a esse respeito. É tudo o que me apraz dizer.
O momento redentor chega mesmo no fim. “Take Me With You When You Go” começa com uma melodia simples e inconsequente e quase parece ser mais do mesmo, com alguns apontamentos interessantes ao piano. Mas a meia canção de chegar ao fim Blunderbuss lembra-nos que porque é que a genialidade de Jack White está intrinsecamente associada a uma dose apreciável de loucura e arrojo.
Em suma, Blunderbuss é o resultado esperado das “canções que ficaram de fora” e que não podiam ter saído sobre outro nome que não o do autor. É pena que soem aos “restos”.