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Imaginem um Smart. Agora, imaginem que o motor do Smart é trocado por um motor de alta cilindrada de um Ferrari. O que é que acontece? Lulu. Sem colocar em causa o valor quer do Lou Reed, quer dos Metallica, a verdade é que há certas coisas que não devem acontecer. É característico do Lou Reed um ritmo lento, mais falado do que cantado, com letras bem escritas e profundas; é característico dos Metallica um ritmo acelerado, mais poderoso, onde uma voz como a de James Hetfield se encaixa perfeitamente. Qual das partes achou que isto era boa ideia?
Antes de partir para uma pequena análise às músicas, vale a pena destacar bons aspectos deste álbum. É verdade que, no geral, é uma péssima ideia, mas nem sempre isto resulta num desastre. Há uma certa tentativa de adaptação de parte a parte em algumas músicas que até acaba por funcionar, de algum modo. Além disso, também é interessante a história que nos é contada, sendo este álbum uma colecção de músicas que Lou Reed tinha composto para uma peça, de seu nome Lulu, escrita pelo dramaturgo alemão Frank Wedekind. Quem aprecia o estilo de letras que Lou Reed costuma apresentar, vai certamente gostar dessa parte neste álbum.
Passando ao que realmente interessa, o álbum no geral mostra uma banda a tocar muito mais do que aquilo que o vocalista, Lou Reed neste caso, consegue aguentar. Ainda que Brandenburg Gate até comece por nos mostrar uma combinação não muito infeliz, com intervenções frequentes de James e um ritmo algo lento que Lou Reed consegue acompanhar, a verdade é que esta não é a norma no álbum. The View é um pouco mais pesada e já começa a evidenciar que, talvez, o ex-vocalista dos Velvet Underground não esteja no sítio certo. É um pouco repetitiva, mas ainda assim, esta acaba por ser uma das melhores músicas de Lulu.
O que se segue – Pumping Blood e Mistress Dread – desce muito baixo. A ideia que fica é que o Lou Reed estava a cantar, ao seu estilo, e alguém colocou música por cima sem que ele desse por isso. Isto é especialmente notório em Mistress Dread, talvez a música mais rápida a nível instrumental. Encontra-se depois, em Iced Honey, aquela que pode ser considerada a música mais bem conseguida do álbum. É onde há uma maior adaptação de ambos os estilos um ao outro: um instrumental mais light e um estilo mais agressivo de Lou Reed. É, realmente, uma boa música.
Cheat on Me tem bons pormenores, mas quando uma música de onze minutos é maioritariamente composta pela repetição excessiva do seu título, dificilmente vai resultar. Segue-se Frustration, que mostra boas fases, tanto do Lou Reed como dos Metallica. É pena que sejam em momentos separados, ou seja, quando o instrumental é bom, Lou Reed desaparece e quando este ‘brilha’, o instrumental desaparece. A faixa seguinte, Little Dog, é uma música com muito mais Lou Reed que Metallica, mas também com uns bons detalhes na guitarra. Acaba por pecar apenas por ser oito minutos do mesmo.
Em Dragon encontramos mais um caso em que esta mistura de estilos completamente diferentes até funciona. A música não começa da melhor forma, mas transforma-se em algo bom. Para terminar, Junior Dad, uma música de praticamente vinte minutos. É sempre difícil imaginar o que se deve esperar de uma música com esta duração, quando não se está a falar de uma banda de rock/metal progressivo. Neste caso, o que temos é uma música bem construída instrumentalmente, com muito pouco de Lou Reed. O maior problema está no facto de os primeiros dez minutos serem ligeiramente repetitivos e os segundos serem o prolongar de um único som até ao infinito. Portanto, na verdade, esta é uma música de dez minutos, que se pode tornar algo repetitiva.
No conjunto, Lulu é um mau álbum. Pode-se encontrar um ou outro ponto onde a colaboração entre as duas partes realmente funciona, até mesmo uma ou duas boas músicas, mas a verdade é que isto não resulta e era demasiado óbvio que não iria resultar. Como foi dito inicialmente, não está em causa a qualidade de nenhuma das partes envolvida. Goste-se ou não, tanto o Lou Reed como os Metallica são grandes nomes da música. O problema é que não basta juntar duas coisas boas para obter um bom resultado, é preciso perceber o que cada um faz e como o faz. É possível apreciar, em parte, mas dificilmente alguém poderá dizer que Lulu foi uma boa ideia.