Metz

II
2015 | Sub Pop | Rock, Noise

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“We are not going to clean up our sound, we are not going to hire a big producer, we are not going to try to write a radio song.”

É punk? É noise-rock? Queres ver que o grunge afinal está vivo? Seja lá o que for, isso não é importante. O que é importante é que estes canadianos deambulam por onde impera a dissonância e fazem questão de partir a loiça toda como poucos. Não só estudaram bem o trabalho dos que vieram antes deles (Nirvana, Sonic Youth, etc.) como souberam dar um passo em frente e criar algo ainda mais corrosivo e muito, muito bem executado.

Os Metz são a injecção de adrenalina de que a Sub Pop estava a precisar depois de ter lançado tanta coisa para meninos de calças justas e bigodes parvos – também tenho calças justas e, às vezes, um bigode parvo. Sim, os Beach House são fofinhos e todos somos fãs do Father John Misty desde pequeninos, mas, e por muito que goste de mostrar o meu jogo de cintura ao som dos Goat: não nos podemos esquecer que esta é a editora que mandou cá para fora um Earth 2 e um Bleach.

Os Metz recuperam essa atitude de quem quer é barulheira sem truques – e quem já os viu ao vivo conhece bem a pedalada dos meninos. Uma hiperactividade que só tem paralelo na qualidade da música que fazem, seja em estúdio ou ao vivo. Vê-los em concerto é como voltar a ser criança e ter uma loja de brinquedos por nossa conta – é absolutamente proibido não nos divertirmos. Abusar da distorção, fazer o maior dos chinfrins e suar que nem um camionista javardão com um boné da Shell é a premissa para um concerto de Metz – menos do que isso é derrota. São os gajos mais porreiros do mundo e estão-se nas tintas se lhes entornas uma cerveja em cima sem querer. Eles querem é o volume no máximo e encher o microfone de cuspo enquanto o suor escorre pelas paredes.

Formados em 2008, desde logo começaram a fazer burburinho no underground. Em 2012 chegou-nos o primeiro disco, com uma enorme “Headache” a abrir as hostilidades. Seguiram-se incansáveis tours, com actuações tanto em bares mais pequenos que muitas casas de banho, como em festivais tão importantes como o Primavera Sound ou o SXSW  – ou volumosos, vá. Quando o pessoal se começava a perguntar, “Então mas estes gajos não se cansam. E um disco novo, não?”, eis que é anunciado  II.

Diz-se que o segundo disco – o da confirmação – é o mais difícil. Há sempre o risco de fazer-se algo menos inspirado ou de bater na mesma tecla. Verdade seja dita, que não há diferenças gritantes entre o primeiro e o segundo lançamento dos Metz (até há, mas o espírito é o mesmo e quem gostou do primeiro vai gostar do segundo); até porque ninguém quer que os Motörhead mudem, não é? Se os ISIS alguma vez se tivessem repetido, ou feito um disco que não rebentasse a escala, ficava triste, mas isto é rock’n’roll, filhos.

Numa entrevista à Noisey, Edkins confessa, “It’s not directly in the lyrics but I’ve had to deal with the loss of some loved ones over the past year and a half. I didn’t touch on those stories specifically but I think it does show mood-wise in some of the songs”. Pois, arriscaria dizer que neste segundo longa-duração os Metz estão, de certa forma, ainda mais abrasivos, mais saturados e com vontade de partir coisas. No entanto, estando mais confortáveis em estúdio, exploram melhor as dinâmicas entre a dissonância, o volume e a distorção, numa mistura que torna a sonoridade da banda mais perceptível.

Ainda é cedo para apontar faixas com potencial para serem “clássicos” da banda (“Wait in Line”?), mas após duas ou três escutas pode-se constatar que a grande vitória de II reside no facto da banda ter conseguido escrever um disco que funciona melhor como um todo.

É inegável que os Metz amadureceram. Sem me querer contradizer, afirmo:  os Metz não se ficam pelo confortável, pelo simples, imediato e óbvio. É apenas rock’n’roll e quer-se sem grandes pretensões? Talvez, mas se não houver desafio às tantas entramos num “vira o disco e toca o mesmo” sem sentido – felizmente não é o que acontece aqui.


sobre o autor

Ricardo Almeida

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