Minsk

The Crash and the Draw
2015 | Relapse Records | Sludge, Progressivo

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Reis e senhores do sludge de contornos mais progressivos, os Minsk fazem jus ao seu nome – larapiado com astúcia à capital da Bielorrússia – e renascem das cinzas. Apresentam-se agora em The Crash and the Draw com algumas alterações na formação, sendo a mais evidente a ausência de Sanford Parker no baixo, dedicando-se apenas às alquimias sónicas da produção.

Os Minsk são um daqueles nomes seminais que, tendo estudado minuciosamente o evangelho segundo os Neurosis, no início do novo século contribuíram para a reinvenção do espectro do metal a um nível tal que, assim como uns ISIS, por vezes é mais fácil apelidar o que fazem de quase tudo menos metal – passo o exagero.

Se o primeiro disco, Out of a Center Which is Neither Dead Nor Alive, num piscar de olhos aos psicadélicos YOB, transpira a rudeza do sludge, e o segundo, The Ritual Fires of Abandonment, nos leva numa visão xamânica, quais incursões dos Doors pelo deserto, e nos convida a perdermos noção do tempo e do espaço nos seus ambientes etéreos, o terceiro, With Echoes in the Movement of Stone, era, até agora, a derradeira proposta de ponto de equilíbrio entre as duas faces, ou as cinquenta sombras se preferirem, dos Minsk.

Uns tentam fazer das mais variadas substâncias as chaves para os cofres fortes da percepção de que nos falava Huxley. Outros servem-se do som; jogam com ritmos algo primitivos, batuques repetidos com a diligência de um ritual, usam e abusam do contraste, ora suave, ora brutamontes, e tudo o mais que possa servir o seu propósito.

Depois de avalanches de frequências distorcidas que, em câmara lenta, esmagam tudo o que nos fustiga, depois da tempestade, a bonança. Fomos levados nas nuances subtis de The Crash and the Draw; atravessámos infernos e purgatórios rumo a um lugar onde, sem esperança e sem desespero,  convivemos melhor, e em quase saudável letargia, com o facto de existirmos.

Os anos passaram. Nós envelhecemos, e os Minsk também. O queixo não nos caiu ao chão e The Crash and the Draw pode até não reinventar a roda, mas sabe tão bem voltar a ouvir Minsk.


sobre o autor

Ricardo Almeida

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