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É de uma dificuldade extrema ouvir de uma ponta a outra e de fio a pavio um álbum inteiro dos Minus The Bear. Por defeito, a própria banda torna difícil a relação entre os seus trabalhos e o ouvinte, não pela falta de capacidade ou de talento, reconhecidamente presentes em cada registo, mas por duas razões fundamentais, que se prendem com o constante martelar no mesmo prego, e pelo querer dar passos maiores ao que o comprimento das pernas lhe concede. Traduzido por miúdos, é uma banda que se dá à insistência, e à vontade de se fazer ecoar até ao infinito, atropelando-se em complexidades que deveriam ser simples.
Lost Loves em específico é uma compilação de êxitos que nunca o seriam. Não encaixa na definição de LP porque no fundo é um lançamento de faixas que não entraram nos anteriores LPs. Algumas delas, como “Broken China”, já as reconhecemos de anteriores EPs e outras colectâneas. E o saber deste reaproveitamento condiciona-nos desde logo a audição, até porque são músicas que em teoria não seriam boas o suficiente para entrar em álbuns que não nos conseguiram entusiasmar de qualquer das formas.
Inusitado tesão de mijo, um álbum da banda tende a ser um audível desengano em relação às faixas que, de forma despreocupada, apanhamos isoladamente por uma qualquer lista de reprodução ou promo. A estrutura das músicas, assente essencialmente em riffs de guitarra desgarrados, que nos oferecem momentos melódicos e ritmos flexíveis, é apelativa e interessante, mas dispersa. Capta-nos como um anzol que no fundo não tem minhoca. E quando mordemos só nos fica na boca o sabor a cobre e um céu-da-boca ferido. Não é que lhes falte coisa alguma, além de calma e um pouco de equilíbrio. O estilo com que entregam a sua música é directo, eléctrico, in your face, e é possível que estas características acabem por lhes limitar o julgamento. Acabamos a sentir que a maior parte das músicas necessitaria de um maior trabalho de reflexão, de polimento, não técnico, que nesse campo são tão limpos quanto a entrega, mas de construção e de desenvolvimento. E talvez assim não as acharíamos, de parte a parte, ora inacabadas, ora repetitivas e a soar ao mesmo, ora demasiado cheias de entulho ou desprovidas de sentido.
Ainda assim, não é uma audição desagradável. Apesar da confusão estrutural, e de ser de todo impossível ouvir de uma lufada sem termos de respirar ar fresco, acompanhamos com o desenrolar do álbum a própria evolução da banda, já que há faixas com um par de anos e outras quase a fazer uma década, repleta de pormenores deliciosos como o próprio início do álbum e da “Electric Rainbow”, ou as ressonâncias de “South Side Life”. É-nos oferecida através deste olhar para trás uma amplitude generosa de subterfúgios que, ironicamente, encontra na insinuação e no tempo distendido de “Patiently Waiting” o bastião de imersão de maior interesse, aproveitando da melhor forma a monofonia vocal e o uso resguardado e calculado da instrumentalização, acompanhando um método que lhes estranhamos mas que aplaudimos.