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Passam quatro anos desde que Share the Fire (2010) veio ao mundo e olhando para trás a banda de “Come into My Waters” não está exactamente onde as nossas apostas os colocavam então. Algures no contexto nacional deve haver um espaço ali, paredes meias com os Wraygunn, para os Murdering Tripping Blues ocuparem que permanece vazio. O álbum editado ao vivo no entretanto, 1st Time in Color (2012), é, para já, o argumento mais convincente que podemos evocar, até porque o que Pas un Autre nos vem confirmar, é que preferimos o trio ao vivo e a cores e nem tanto assim em estúdio.
Não querendo menoscabar o que se fez com a importação do blues na segunda metade do século XX, impõe-se a questão: porquê agrilhoa-lo às convenções “estéticas” que lhe deram origem na América? Estar deste lado do atlântico devia ser uma vantagem e uma oportunidade para descolar o estilo dum campo semântico cansado que deve ser deixado em pousio até – vamos apontar para 2035; depois disso que venha o revivalismo purista para pôr a roda a girar sem sair do sítio, mas até lá deixemos as mulheres lascivas, concupiscentes e, amiúde, fatais, troquemos os uivos por latidos e tiremos o órgão do saloon que isto não é o Alentejo Sem Lei e não há cá disso pelo burgo.
Pas un Autre soa a um discurso cansado e pandémico que já ouvimos em outras bandas. Aliás, os Murdering Tripping Blues serão os menos culpados desta extenuação e não mereceriam o martírio. Não obstante, o mal está feito.
A diferenciá-lo do seu antecessor, o registo apresenta um som muito mais polido. Ao passo que “Share the Fire” batalhava por um som distintamente mais cru e visceral que lhe dava uma atmosfera mais vívida, este novo trabalho sugere um ambiente mais recluso, emparedado e saturado de reverb. É uma opção, mas não foi exactamente a sensação de estarmos a ouvir um álbum ao vivo o trunfo de “Share the Fire”?
Não sendo os Murdering Tripping Blues uma banda de riffs não é surpresa besuntarmos também o caçula da discografia com o aviso de que “este álbum precisa de ser ouvido mais do que uma vez”. Não há em Pas un Autre nada de imediatamente memorável. Há antes, um processo paulatino de criação de atmosferas. Frequentemente lúgubres, mundanas e libidinosas. Só que para cada momento em que o efeito é atingido (“Thomas Milian” e “Confessions of a Severed Hand”) há um que pede “ fast forward” (“One at a Time” e “Resurected then Go”).
“In Heat” e “Into Your Eyes” são, costas com costas, a melhor sequência do longa duração. O single é a mais memorável das faixas e tal como “In Heat” é agressiva o suficiente para fazer o sangue acelerar passo. Consistentemente, sempre que as teclas têm espaço para respirar e para indultar-se em momentos de loucura ao longo do álbum as canções melhoram. E estas duas faixas são os melhores exemplos. “Stumbling Blues” conserva a mesma raiva mas substitui profetas e trás a guitarra para a ribalta com um solo de encher o olho.
Ao terceiro álbum, os Murdering Tripping Blues soam mais polidos e comedidos. Repetem o que já disseram mas arriscam numa roupagem diferente que pode não atrair quem se deixou seduzir pela aspereza de outros tempos.