//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
“m b v”, o sucessor de Loveless, teve que esperar perto de 22 anos até sair da barriga da mãe, e mal abriu os olhos caiu na graça de todos. Depois de duas décadas de gestação, não é nada mais que uma continuação do ponto em que os My Bloody Valentine tinham parado em 1991. Só que num formato ainda melhor.
Quando já ninguém acreditava num possível terceiro lançamento na carreira da banda de Dublin, Kevin Shields anuncia, durante um concerto em Londres que o tão aguardado rebento estaria no ar numa questão de dias. Uma surpresa repentina, um êxtase que surgiu à velocidade da luz, e que depressa confirmou as felizes palpitações cardíacas de quem esperava por isto. É com “she found now” que todos percebemos de imediato que isto é mesmo My Bloody Valentine, renascidos. Não há uma reforma nas melodias, não há um excesso de inovação, de reinventar o que os tornou pioneiros no meio. “only tomorrow” é toda uma exploração dos poderes da guitarra, por Kevin Shields. Também a voz, sempre suave, toma uns trilhos mais ou menos diferentes, evidenciando alguns efeitos, como se fosse um motor de uma mota a arrancar, mas em modo dreamy. A seguinte “who sees you” leva mais uma vez Shields aos pormenores infindáveis na guitarra, abusando do fuzz e transportando-nos para a energia mais melancólica de MBV.
“is this and yes” integra o estranho e enigmático som de um orgão, num tom quase religioso. Intercalado com a voz de Bilinda Bucther que nos vai soprando trechos da letra, muito pausadamente. “if i am” tem um som mais radiofónico, mais provável de chegar a uma rádio e mais provável de se ajustar a um público mais abrangente. Soa por vezes a uns Portishead em transe, mas o jogo de vozes continua a deixar assente a marca MBV. Assim também é “new you”, com uma sonoridade muito limpa, mas com um excelente trabalho de baixo, pelas mãos de Debbie Googe.
“in another way” destaca-se pelo seu começar frenético. Aqui já podemos ouvir mais distorção, mais melodias confusas. Mais uma vez, o trabalho de guitarra leva-nos a novos portos, e isto assemelha-se a uma nave espacial com uma rave dentro de si mesma. A rave continua na faixa seguinte “nothing is”, que com o seu insistente som mais punk e sujo, mais desprendido, é uma união de bateria e guitarra em uníssono, e é isto. 3:34 minutos a marchar, saltar, seja o que for, sempre igual.
Para finalizar, “wonder 2”, volta ao som “por todo o lado” que caracteriza muito MBV. As vocalizações pausadas, com um eco intrigante, e a mistura de sons esquizofrénicos, terminam este m b v, que com 9 músicas apenas satisfez a fome de duas décadas de todos os fãs. Voltamos ao passado, como se a história nunca tivesse terminado e sorrimos por perceber que a mesma está de volta. Mesmo quem ainda não tinha nascido quando os MBV estavam no seu auge. Quem tem o Loveless bem vincado no seu passado musical de certeza que sentiu uma sensação de retorno ao ouvir o primeiro acorde deste álbum. Continua tudo lá, nos mesmos sítios onde todas as peças haviam ficado. Tudo intacto mas com um brilho mais nítido. Acordamos de um sonho e agora vemos tudo sem a visão nublada. A distorção continua, as guitarras que dançam como serpentinas, a voz andrógina que nos sopra ao ouvido também. Foi tudo polido e o sonho é mais nítido agora.