Neurosis

Honor Found In Decay
2012 | Neurot Recordings | Post-Metal

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Se pensarmos bem, comemora-se este ano o vigésimo aniversário do renascimento dos Neurosis como projecto ambiciosamente único e marginal, baptizado por Souls At Zero. No entanto, o grupo de Oakland não se deixa levar por revivalismos e encontra no lançamento do seu décimo álbum de originais, Honor Found In Decay, a celebração perfeita.

Nestes vinte anos, os Neurosis foram palmilhando caminho, de modo a construir uma discografia que é extremamente coerente, coesa e nada menos que brilhante. O único erro que não nos podemos permitir cometer é ignorar algum dos discos dos norte-americanos, isto porque o processo evolutivo está bem vincado em todos eles. Os Neurosis não fazem música para ser consumida por qualquer pessoa em qualquer sítio e, por muito elitista que isto possa soar, é um facto inegável. A música de Scott Kelly, Steve Von Till e companhia exige tanto de nós quanto está disposta a oferecer-nos. É caso para dizer que a audição de um disco dos Neurosis é mesmo um acto solitário. A companhia perfeita para um Through Silver In Blood somos nós mesmos, para que nos possamos despir de todos os despojos, deixar que o som entre em nós, e nos penetre desde poros até à medula. É assim com todos, seja um Times Of Grace, um A Sun That Never Sets ou um The Eye Of Every Storm. Para cada um, apenas o som, apenas a nossa mente e apenas um estado de espírito diferente. O que permanece é a verdade. O que permanece é a honra. E foi disto que se aperceberam os Neurosis (induzimos nós) quando decidiram usar uma palavra tão forte no título deste novo disco.

Honor Found In Decay, vai ainda mais longe na exigência. Ao compará-lo com o seu antecessor, que data já de 2007, Given To The Rising, temos um álbum que provavelmente não tem uma faixa tão fulgurante quanto a que abria esse disco, mas temos um colectivo de músicas mais coeso e que respira melhor. Esse facto provém essencialmente de dois factores. Em primeiro lugar, das experiências que os dois principais vocalistas têm tido, seja em nome próprio, a solo – não esquecer The Forgiven Ghost In Me, também deste ano, de Kelly, bem como a homenagem a uma das maiores influências de Kelly e Von Till, Songs Of Townes Van Zandt, em conjunto com Scott Wino – ou no “supergrupo” Shrinebuilder, por exemplo. Por outro lado, temos aqui uma das melhores performances que Noah Landis, responsável pelos teclados e samples desde 1995, já assinou em disco. As atmosferas criadas por ele são subtis, negras, carregadas, intensas e sempre únicas, tal como na abertura do disco que serve como prenúncio disto mesmo. Se tivermos que realçar alguém no disco, desta vez é o teclista e verdadeiro sonoplasta do grupo, que consegue elevar a patamares altíssimos a música do colectivo nos seus momentos mais inspirados.

Disse-me um amigo, há uns dias atrás, que alguém ligado à Neurot Records afirmava que este era um álbum diferente daquilo a que estávamos habituados nos Neurosis. A diferença é que este não tem aquelas malhas que nos fazem cair o queixo logo à primeira audição. É música densa e fortemente texturada, que nos obriga a passar por ela uma e outra vez. Ainda que não saibamos exactamente qual é a força que nos obriga a isso, a verdade é que neste disco emana uma subtileza tão penetrante que obriga a que nos curvemos perante ela, mais e mais. Não é fascinante a “decadência“?


sobre o autor

Carlos Vieira Pinto

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