//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Os Pallbearer não são propriamente uma banda que passou muito tempo escondida no subsolo da música pesada, a ser subvalorizada, até conseguir escalar para o sucesso, pouco a pouco. O quarteto do Arkansas impressionou de imediato e foi muito rápido a voltar as atenções dos fãs de doom metal, e não só, para si. Num instante, e com um par de tremendos álbuns, tornaram-se uns dos principais porta-estandartes do doom metal moderno, mas de abordagem clássica, na actual década. O sucesso não passou despercebido e chega agora o passo de gigante: a Nuclear Blast. Para muitos puristas, isto já pode entornar o caldo, mas “Heartless” é álbum para deixar todos descansados.
Tudo o que uma editora de renome lhes influencia é numa produção mais límpida. Se existe algum apelo comercial na acessibilidade de muitas melodias aqui existentes, isso sempre existiu na música dos Pallbearer e aqui, em “Heartless”, canta-se muita boa melodia suave, da que anda tão bem de mão dada com a atmosfera mais escura e pesada. E canta-se pela voz já conhecida de Brett Campbell, que apresenta aqui evolução e melhorias, todas elas mérito do próprio. Ainda há aquele espacinho por onde arranjar comparações a um Ozzy Osbourne ou a um Bobby Liebling em tempos de juventude. Mas já está cheia de identidade e a casar muito bem com o impecável trabalho instrumental que os restantes cavalheiros talentosos voltam a apresentar-nos.
Esse instrumental ainda está como o conhecemos. No bom sentido, claro. O que os Pallbearer tocam continua a ser doom metal que bebe a imensos actos clássicos como Candlemass, Saint Vitus ou a mais pública das fontes, Black Sabbath, mas sem deixar de parte um lado progressivo e uma adoração por Pink Floyd ou uns Rush, numa fusão singular. A inicial “I Saw the End” é um grande tema e uma abertura perfeita, mas tem a familiaridade que pode deixar muitos a pensar se vai descolar-se do anterior “Foundations of Burden”. Assim que entra aquele avassalador riffalhão de “Thorns” já estamos mais que conquistados e convencidos e já nem pensamos em mais nada.
Mas o principal foco não consegue deixar de estar nas novidades. Nas novas influências, afinal os Pallbearer são uma banda jovem, que impressionou de imediato com uma proposta nova e refrescante. Ficamos sempre à espera de mais evolução. E temos uma longa “Dancing in Madness”, onde tão bem incorporam a vertente progressiva com o psicadelismo e o ambiente certo para trazer à superfície o tal nome, Pink Floyd, e dum modo a que não seja tão disparatada uma referência a Crippled Black Phoenix.
“Cruel Road” acaba por ser uma das maiores surpresas e divide o seu público. Para muitos é deslocada, para outros tantos é essencial e completa o tão variado disco. Mantendo o seu esqueleto, este tema caminha – ou corre, se comparada à habitual lentidão que se associa aos Pallbearer – por lados do heavy metal e do hard rock, destacando-se pelos seus solos soberbos ou por algumas das mais contagiantes melodias do disco, naquele pegajoso refrão onde se lhes pode encontrar o tal apelo mais comercial. Nessa faixa, os Pallbearer mostram que não só são já uns gigantes do doom metal actual, como também podem, se quiserem, ser uma grande banda de rock e escrever uns belos temas a misturar docilidade melódica com uma atmosfera negra e pesada. De volta às referências disparatadas que não o são assim tanto, não ficam a uma distância tão longa de uns Baroness.
E ainda há a conclusiva “A Plea for Understanding”, onde voltam as Pink-Floydzices em força, onde está a maior junção dos elementos progressivos e ambientais com o peso e riffs mais pesados e tenebrosos. Faixa mais longa, mais complexa, mais emocional – falei em evolução vocal de Campbell: é dar atenção a esta faixa – mais recheada e completa. A fechar o disco e a colocar-se bem a jeito para ser a melhor faixa do fortíssimo colectivo.
E, no geral, está um grande disco. Se tem umas partes mais imediatas que outras, é mal que se cura muito facilmente com umas audições repetidas. E “mal” é coisa que não se chega a encontrar em “Heartless”, álbum que podia ter dificuldades em igualar ou superar uma expectativa muito alta deixada pelos seus antecessores. No fim de contas, só cimenta que os Pallbearer ainda não se deixaram intimidar pelo sucesso e aclamação crítica e estão prontos para o futuro. No presente, continuam simplesmente a encabeçar todo o doom metal da actual década.