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Dizia Eddie Vedder, em entrevista à NME, que os Pearl Jam se haviam tornado na maior banda de pais. Feitas as contas, aqueles que, quando Ten começou a vender que nem pãezinhos quentes, estariam algures entre os 15 e 20 anos estão, em 2014, mais do que na altura de se preocuparem com a sua progenitura. Mas o epíteto de “ultimate dad band”, como Vedder descreveu a banda, não se deve somente a um axioma matemático. É algo do campo afectivo, que tornou os Pearl Jam num porto seguro para aqueles que acham que dream pop é um lava-loiças e dubstep um exercício de fitness.
À medida que a linguagem musical do novo século se torna cada vez mais entrópica, os Pearl Jam são a redundância que dá sentido à narrativa. Aquela palavrinha reconhecível num país estrangeiro, onde nem o alfabeto é o mesmo. Consistentemente bons, consistentemente iguais a si mesmos.
Lightning Bolt, ao contrário do que o nome sugere, não choca nem desilude. É bom, mas é mais um para a estante onde estão Pearl Jam e Backspacer.
“Getaway”, é sintomática do que se tem vindo a dizer, rock aguerrido, propulsionado a distorção e linhas de baixo circulares. Um break interessante de bateria, para que Matt Cameron faça o gosto às baquetas e McCready a safar a faixa da sentença de fastforward. Diga-se a propósito de McCready, que não raras vezes ao longo do álbum, são dele, onde outrora seriam da voz de Vedder, os apontamentos dignos de nota.
“Mind Your Manners”, single escolhido para promover o álbum, é a primeira numa linha de montagem que resolve versos particularmente tensos e agressivos em refrões e interlúdios de tons maiores e descontraídos. “My Father’s Son”, “Lighning Bolt”,“Swallowed Whole” e “Let The Records Play” seguem todas esta lógica. Para além do cliché arabesco de “My Father’s Son” e do blues pujante dos versos “Let The Records Play” não há nada que quebre o molde que os Pearl Jam construíram para si. E sim, “Mind Your Manners” é a “Spin the Black Circle” de “Vitology”.
Se calhar é da idade, da alma apaziguada que resolveu os tumultos da adolescência, mas são os temas mais calmos que levam vantagem neste “Lightning Bolt”. O que não é necessariamente mau. Se extrapolarmos o que aconteceu com “Just Breathe” do álbum anterior, há por estas bandas mais singles do que houve em todo o período de 1996 a 2005.
“Sirens”e “Infallible” são os dois grandes momentos do álbum. A primeira algures no fio da navalha entre a balada acústica e a rock, a segunda a pegar no riff “Kashmir” dos Led Zeppelin e a traduzi-lo para uma linguagem mais acessível.
“Sleeping By Myself”, “Yellow Sun” e “Future Days”, são a tríade que parece resgatada de um projecto a solo de Eddie Vedder e qualquer uma delas tem até mais argumentos do que teve “Just Breathe” para conquistar airplay e os corações apaixonados daqueles que só em 2009 descobriram os Pearl Jam.
De fora fica “Pendulum”, faixa sui generis deste Lightning Bolt que facilmente confundiríamos com o registo de Binaural.
Fica a questão: são os Pearl Jam, ao décimo álbum, ainda relevantes? Por enquanto sim. Mas o tempo não espera por ninguém e a consistência tende a redundar em anacronismo. O desenrolar da década pode ver os Pearl Jam a tornarem-se os próximos Rolling Stones: bons, mas a escolha segura de quem não ouve outra coisa que não passe na M80. E até podem ganhar novos fãs, mas isso tem mais a ver com os pais que dão o Ten a ouvir aos filhos.