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É desconcertante a sinceridade com que Rita Braga se entrega a Gringo In São Paulo. A completa ausência de pretensiosismo é chocante para aqueles de nós que tendem a levar a música como algo “sério”. Não que a artista não leve a música a sério, mas a diversão palpável na forma como canta temas como a faixa homónima ou “Tralalala” esbate a linha que separa diversão e trabalho. E isso maravilha e causa ligeira inveja.
O que causa ainda mais perplexidade é que Gringo in São Paulo não parece afirmar-se contra uma certa corrente art pop, não parece querer fazer-nos pensar sobre a portugalidade, não parece querer ser uma reflexão alongada sobre o espaço que aquilo que é humano em nós ocupa num quotidiano mecanizado. Não parece, mas, fruto do seu tempo, acaba por sê-lo. Se quisermos.
Nesse sentido, é um trabalho que Rita Braga oferece. É primogénito da sua mundividência, mas é um álbum que é de todos e conseguimos ouvir essa generosidade.
São Paulo é o palco principal do EP que arranca com o single homónimo, justaposição de marchinha de carnaval e Bob Dylan, com o sotaque cerrado de quem nem sequer faz o esforço e obriga a um sorriso espontâneo que não conseguimos esconder. Rita Braga faz assim o retrato de quem simultaneamente vê de fora e se deixa assimilar. É tão mais notório em “Poetas do Fim do Mar”, tema sorumbático que vem perguntar se música portuguesa com sotaque continua a ser portuguesa. Contas de outro rosário. Interessante é a opção de transformar, a tempo de acabar, uma melodia que podia ter sido feito por Noiserv numa faixa de Linda Martini.
“Erosão” “sai do tédio de um rádio de pihas”. É canção que se arrasta contemplativamente ao som da nota grave que se deixa ficar. Liricamente é o tema mais interessante, navegando segura por entre devaneios e aforismos profundos.
Com o apelo cantarolável de “Frére Jacques”, surge-nos “Helicóptero”. Canção que parece a interpretação sonora do mundo do Álvaro de Campos da fase futurista mesclada com uma canção de embalar. Tem bons apontamentos de xilofone, mas a melodia vocal a tempos constrange frases que ficam a meio.
“Tralala” é musica de pôr do sol. Ukelele e slide guitar dão-lhe uma aura preguiçosa até ao momento que a secção rítmica se impõe e chama a si a danceteria. É bonita e não há muito a dizer sobre uma canção que quer dizer pouco.
Rita Braga consegue em cinco canções fazer um EP que vale como obra em si mesma, sem ser um prólogo de um álbum que virá. Não abusa da sua estadia, mas também não nos deixa a sensação de lhe faltar algo. É simples na sua estrutura, mas polissémico na sua interpretação o que convida a novas audições. E por falar nisso…
When I close my eyes I see you
When the evening falls I sigh
Here where I live there are no stars
But the cars make the city go alive…