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Quase 20 anos se passaram desde que os Cocteau Twins fecharam a loja. Robin Guthrie, guitarrista e membro fundador da banda escocesa, sempre se foi desdobrando em inúmeros projectos ao longo dos anos, quer como músico, quer como produtor. Basta relembrar o poder do seu génio artístico nos Violet Indiana, nas colaborações com Harold Budd, John Foxx e Resplandor, ou como produtor de Felt, The Gun Club e Lush, por exemplo. Quanto a Mark Gardener, vocalista e guitarrista dos recentemente reunidos Ride, que actuarão em Junho no festival Primavera Sound, no Porto, não editava um disco desde 2005 e há muito que vinha anunciando o lançamento de um álbum em conjunto com o mago da Dream Pop. Posto isto, facilmente se pode concluir que qualquer shoegazer, digno desse nome, teria todos os motivos e mais alguns para aguardar, com ansiedade extrema, o fruto da convergência entre estes dois galácticos.
O mistério começou por ser desvendado, ainda em 2012, através da faixa “The Places We Go”, publicada em diversas plataformas online. Verdade seja dita, a coisa prometia! A fórmula parecia sólida, aliando a estética estratosférica de Robin Guthrie à poética solidez vocal de Gardener, transbordando melancolia por todos os lados.
Agora, já com o longa duração nas mãos, olhamos para uma capa que nos mostra os restos de um barco, esquecido numa estrada miserável no meio de nenhures. Esta capa acaba por se adequar na perfeição àquilo que se ouve neste álbum (pelos piores motivos, subentenda-se). Dir-se-ia que estamos perante destroços, perdidos e espalhados num mar de ideias soltas. Algumas delas, apanhando a corrente certa, até poderiam ter dado à costa numa praia bem mais solarenga e aprazível. “The Places We Go” não passou de um falso alarme. Após as primeiras audições de “Universal Road”, o que vivenciamos é apenas a incómoda amargura da desilusão. Não porque se estivesse à espera de um registo completamente inovador e revolucionário, um potencial candidato a disco do ano. Não, não é isso. Mas, tendo em conta os nomes em questão, exigia-se (vá lá, esperava-se!) que os “mínimos olímpicos” fossem cumpridos. Ao invés, “Universal Road” é composto, na sua maioria, por composições básicas, muito pouco criativas, chegando mesmo a roçar a banalidade em certos casos.
É verdade que a produção de excelência está lá. É verdade que a voz suave e hipnoticamente envolvente de Gardener está lá. É verdade que as guitarrinhas celestialmente sonhadoras de Guthrie, repletas de delay e de chorus, também estão lá. Mas tudo isso é insuficiente para que se consiga disfarçar o imenso vazio criado pela incapacidade que estes dois senhores revelam em se renovarem. É evidente que há excepções e, de vez em quando, lá se consegue ouvir uma ou outra canção realmente boa. Estou-me a lembrar de “Amnesia”, “Blind”, ou da já mencionada “The Places We Go”, um tema que só pode ser encontrado na edição limitada do CD. Mas, na sua essência, estamos perante um trabalho delimitado por texturas ambientais redundantes, sem fôlego, e onde a ousadia estética é completamente inexistente.
Contudo, por descargo de consciência, fica a ressalva de que o disco pode até nem ser tão mau como este texto o pinta. Talvez a fasquia estivesse apenas demasiado elevada.