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Os Sepultura continuam a ser dos nomes mais influentes e mais badalados no que à música pesada diz respeito. Mas continua igualmente a existir uma linha a separar uns “verdadeiros” Sepultura de uns outros, e uma descontinuação de muito repertório da fase pós-Max Cavalera. Não são esses melindres ou até mesmo as guerrinhas que desmentem qualquer facto: já há mais destes “novos” Sepultura do que dos “velhos” e, Derrick Green já está mais que bem enraizado e a dar cara à banda, impondo-se como mais que o substituto americano de Max Cavalera que não berra os clássicos bem como ele.
Ao décimo-quarto disco, oitavo com Derrick Green, os Sepultura continuam a expandir a sua palete de sons enquanto vão alienando mais alguns fãs, sempre aumentando o experimentalismo que abunda nos seus discos, principalmente após o “Dante XXI“, de 2006. Se muitos preferem os Sepultura de Max Cavalera, em que o principal factor era malhar para a frente e trazer sons tribais Brasileiros ao peso do thrash/groove que ajudaram a inovar, agora temos os Sepultura de Andreas Kisser cada vez mais experimentais, com portas abertas para tudo o que é progressivo, melódico e mais qualquer sonoridade alheia que lá caiba sem ser à força. Cavalera queria os Sepultura mais agressivos, Kisser quer o colectivo mais épico. Sempre existiu uma forte mensagem política directa na música dos Brasileiros, agora floreia-se mais com histórias de princípio, meio e fim, discos conceptuais como este “Machine Messiah“, debruçado sobre religião e avanço tecnológico, fundido num culto de adoração a um Deus-ciborgue.
Sim, os Sepultura estão muito diferentes, já deve ter dado para perceber. Mas também já houve tempo mais que suficiente para nos habituarmos. E depois de tudo isso ainda lançam um disco como este, onde soam a uma banda que não se contenta com o seu estatuto veterano e ainda procura espaços por onde amadurecer. Têm aqui um registo sólido como um todo mas com uma ampla variedade de sonoridades, onde dá para isolar cada canção por si e destacar umas mais marcantes. Abunda a melodia e melancolia na faixa-título de abertura, cujo ambiente é logo cortado por “I Am the Enemy“, a maior malha desta colecção, com dois minutos e meio de peso directo a thrashar. O tema que levantará o ouvido dos não-convertidos. O forte arranjo oriental de “Phantom Self” torna-o num dos temas mais interessantes e marcantes de todo o disco. O instrumental de “Iceberg Dances” e toda a estrutura de “Sworn Oath” são as maiores vénias ao metal progressivo que a banda aqui consegue, aproximando-os mais ainda daquele lado épico que tanto parecem procurar ultimamente. “Vandals Nest” volta para mostrar que é nos temas curtos que estão as verdadeiras malhas thrasheiras. “Cyber God” é a colagem do lado mais experimental e melódico, com predominância de voz limpa com o lado mais agressivo e “à antiga”, numa estrutura 50/50. E ainda cabe um pouco de humor na faixa bónus “Ultraseven No Uta“, onde recorrem à série anime da década de 60 Ultra Seven e ao seu tema de abertura para fazer uma cover.
Uma banda deste estatuto pouco ou nada terá a provar, mas os Sepultura trabalham como se tivessem. Mas não é para provar algo aos fãs da velha guarda, ainda não está aqui um retorno às “Roots” – pun intended. Mas é bem capaz de estar aqui o seu melhor álbum desde o “Dante XXI“, com todos os experimentalismos a resultar em algo que não seja uma mixórdia ou que soe pretensioso – e aqui, posso ou não, estar a atribuir essas características a algum disco antecessor que tenham lançado nos últimos anos. A emancipação completa do nome “Cavalera” está já feita e cada vez mais se assegura que a esses tempos não voltam, nem lá perto, com mais um álbum para polarizar fãs e deixar narizes torcidos mas que merece umas audições atentas.