Sigur Rós

Valtari
2012 | EMI | Post-Rock

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Valtari é o nome do sexto álbum de estúdio da banda islandesa. Depois do antecessor, Með Suð Í Eyrum Við Spilum Endalaust, e após um interregno de quatro anos – com o lançamento do filme Inni e do álbum a solo do vocalista entre outros acontecimentos -, os Sigur Rós decidiram criar o registo mais calmo da sua carreira.

“Ég anda”, o primeiro trecho do álbum de 8 músicas que constituem quase um hora, tem uma iniciação bastante lenta, e só a partir dos dois minutos é que começa a fazer-se ouvir significativamente. A partir daí, os Sigur Rós começam a surgir, guiados pela voz alienígena e mágica de Jón Þór Birgisson, e o seu próprio dialecto (Hopelandic). Nos últimos momentos da faixa, somos transportados para um ambiente aquático: soa a profundo, como se nos deixássemos desmaiar lentamente nas entranhas de um oceano escuro e silencioso.

A seguinte “Ekki Múkk”, começa também muito lentamente, com um instrumental quase inaudível de tão discreto que é. Só a meio, perto do fim, é que a voz surge, por cima de um som de fundo muito ambiental, como se víssemos um nascer do sol cristalino, por entre as árvores altas de uma floresta puerilmente iluminada. É uma canção vinda dos céus, no sentido em que acalma qualquer alma turbulenta. É uma canção tipicamente Sigur Rós, com o seu doseado carregamento de melancolia e algum pesar.

“Varut” é outra canção que prima pela beleza, por entre uma sinfonia que casa pianos com violinos, e uma voz tão inocente como a de Birgisson. É um dos temas maiores deste registo. Nos últimos minutos não há como descrever o que se passa, além que somos invadidos por todo um esplendor musical. A combinação de guitarras, de vozes que nos embalam, e tudo o resto, torna o final desta canção em algo épico, à falta de palavras que o descrevam melhor.

“Rembihnutur”, já emprega bem os tais elementos electrónicos dos quais o baixista fez referência num entrevista. É electrónico, mas nada tem de dançável. Soa a algo que suga, e acaba em marcha, portanto nada tem que se possa abanar a anca numa onda de espantar os demónios. Aliás, chama por eles um bocadinho, chama um lado mais negro da alma, de forma suave.

“Varteldur”, é uma versão de “Lúppulagið”, que para quem assistiu a Inni, o filme musical mais recente de Sigur Rós, de 2011, possivelmente reconhecerá. Logo depois, chegamos à faixa com o mesmo nome do albúm “Valtari” (em português, rôlo ou cilindro), que se afigura como oito minutos de pura tranquilidade, mas que não nos trazem nada de novo. De facto, a faixa gira em torno das mesmas melodias, e sem voz, pode tornar-se um pouco monótono. No entanto, não deixa de ser um momento prazeroso.

No final, “Fjögur píanó”, ou “Quatro Pianos”, dá o término de um álbum, como se fosse a música que ouvimos quando se passam os créditos no final de um filme. Resume o álbum e deixa-nos a remoer e a pensar sobre o que experienciámos anteriormente, enquanto se aproxima do derradeiro silêncio. Não é muito mais que o que o nome indica, mas também não nos chateamos com a simplicidade em Sigur Rós.

A imagem que ocupa a capa do álbum, foi feita pelas irmãs do vocalista Jónsi: Lilja e Inga Birgisdóttir. Se a analisarmos bem, transfere em fotografia o que a música da banda imite. Tem tanto de surreal como de mágico, com uma pontinha de saudades de uma realidade que nunca tivemos nas mãos.
Depois do alegre Með suð í eyrum við spilum endalaust de 2008, Valtari volta a trazer-nos calma e introspecção de outrora. Talvez para alguns sejam precisas várias voltas ao álbum, para que o consigam assimilar, em especial quem não tiver uma perspectiva cimentada sobre a banda islandesa. Mas mais uma vez, a vitória acompanha-os.


sobre o autor

Andreia Vieira da Silva

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