Sun Kil Moon

Benji
2014 | Caldo Verde Records | Folk, Rock

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Humano, Demasiado Humano” é o título de uma obra de Friedrich Nietzsche publicada em 1878 e poderia, também, tratar-se de uma espécie de subtítulo – ou legenda – de Benji, o disco que Mark Kozelek edita este ano sob o epíteto Sun Kil Moon.

À primeira vista, Benji é um disco de personagens – nomes próprios abundam nos títulos das canções que o compõem –mas à lupa percebemos que, na verdade, se tratam de pessoas. Pessoas reais. Pessoas reais que morreram, ou que vão morrer.

A forma como Kozelek lida com a dor da definitiva perda é esta, é dar-nos elegias em forma de canções – há já vinte anos, primeiro com os Red House Painters e agora como Sun Kil Moon– como o próprio aqui assume “I ain’t one to pray, but I’m one to sing and play”. É assim com assassinos em série “Pray For Newtown” ou “Richard Ramirez Died Today Of Natural Causes”, ou com a sua prima em segundo grau “Carissa” que teve uma estranha morte, curiosamente igual à do seu avô, na assombrosa “Truck Driver”. Esta proximidade torna-se quase incómoda, quando Mark Kozelek nos canta “I Can’t Live Without My Mother’s Love” ou “I Love My Dad” com uma sinceridade estonteantemente desarmante, que já não existe nos dias de hoje.

Este homem natural de Ohio – Estado sempre presente nas suas letras – nos seus quarentas e muitos, usa a sua crise de meia-idade “I said I can’t explain it and it’s a middle age thing” como catalisador para criar o disco mais variado da sua carreira. Não que Mark Kozelek tenha uma carreira, mas sim uma vida normal em que foi escolhido pela música “We all gathered around, listened to her play and sing / And I fell into a trance a knew one day I woud do the same thing”. Por esta razão, o norte-americano presta homenagem aos Led Zeppelin em “I Watched The Film The Song Remains The Same” e aos Pink Floyd em “Dogs”, uma canção onde a morte nos deixa respirar, e onde cabem vários tipos de experiências sexuais. Uma canção em que o climax é um verdadeiro tratado sobre as emoções e as relações humanas.

Benji é existencialista até ao seu âmago e tem uma sinceridade visível até à sua medula. Benji é uma espécie de livro de Fyodor Dostoyevsky, ou de filme de Ingmar Bergman ou Yasujiro Ozu, mas em disco. É provavelmente o álbum mais completo de Kozelek e, por isso mesmo, desde já um candidato a disco do ano. Dificilmente aparecerá um outro trabalho onde se aprenda tanto sobre a humanidade, e isso, meus caros, é dizer muito.


sobre o autor

Carlos Vieira Pinto

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