Swans

The Seer
2012 | Young God Records | Post-Rock

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O anúncio de um novo disco dos Swans em 2010 deixou muita gente extasiada, uma vez que se seguia aos 14 anos de puro silêncio do grupo de Nova Iorque. No entanto, Michael Gira voltava sem a sua companheira de (quase) sempre, Jarboe, resgatando apenas Norman Westberg e alguns músicos com quem tinha colaborado nas suas actividades a solo ou nos The Angels Of Light.

A este regresso deu-se o nome de My Father Will Guide Me Up a Rope To The Sky e, ainda que acabasse por ser um dos melhores discos desse ano, sentia-se que o verdadeiro espírito dos Swans estava ainda muito contido, como se não soubesse exactamente onde explodir. Neste novo disco os Swans aproximam-se mais do experimentalismo com que tinham terminado a carreira em 1996 com Soundtracks For The Blind. The Seer é um disco de proporções cósmicas. Um disco que exige duas horas do nosso tempo para que o possamos ouvir inteiramente. Nele existem todos os Swans que conhecemos, desde os tempos de Filth até  The Great Annihilator ou ao disco gravado ao vivo Swans Are Dead, e é com essa capacidade de olhar para trás e de se libertar outra vez que Michael Gira e companhia conseguem sentir o futuro, observá-lo e dar-nos em troca um disco que aponta claramente para o futuro, tal como o seu próprio nome indica.

As duas horas de duração deste mamute estão dividas por dois discos. O primeiro tem sete temas e o segundo tem quatro. A verdade é que se juntarmos apenas os três temas mais longos estes perfazem um total de quase 75 minutos. Três temas em 75 minutos. O primeiro disco abre com “Lunacy”, em crescendo, até Gira ser acompanhado por Alan Sparhawk e Mimi Parker dos Low, entoando de forma aterradora “Your childhood is over”. Ficamos avisados de antemão que esta vai ser uma viagem de despojos emocionais. “Mother Of The World” traz-nos de volta os Swans com os seus ritmos marciais, quebrados e físicos levando-nos a um final que relembra os tempos de White Light From The Mouth Of Infinity e as suas bucólicas paisagens sonoras. “The Wolf” e “The Daughter Brings The Water” são os apontamentos mais despidos, apoiados na voz, sendo ela sussurrada ou murmurada e em guitarras limpas, quase country. A contrastar com estas, temos “93 Ave Blues” que é a mais experimental, cacofónica e com aquele sentido psicótico e mórbido digno de um Gira dos anos 80. Nesta primeira parte somos servidos com aquela que é a peça central do disco, “The Seer” e os seus mais de 30 minutos de pura viagem onde passamos por orquestrações dissonantes, batidas tribais, efeitos sonoros que trepidam e rasgam a melodia, crescendos que purgam e drones que purificam, psicadelismo folk e country pontuado por harmónica. Na sua parte final e na faixa seguinte “The Seer Returns” somos brindados com batidas repetidas que nos forçam a mover os músculos serenamente em transe.

O segundo disco abre com “Song For A Warrior”, cantada na sua quase totalidade por Karen O dos Yeah Yeah Yeahs, num momento de melancolia e fragilidade digno de Jarboe, que por sua vez, aparece mais tarde no disco, a trazer alguma luz em “A Piece Of The Sky”. Antes disso ainda temos “Avatar”, outro exercício de ritmo e música concreta. “The Apostate”, sendo o último tema, é aquele em que Gira se liberta na sua totalidade, qual espírito a ver-se livre do purgatório, mostrando-nos que ele não faz música porque quer, mas sim porque precisa. Uma catarse para que a violência, lhe saia a ele e a nós, do corpo. Ao mesmo tempo sagrado e profano. The Seer é muito provavelmente o zénite da carreira de Michael Gira, sendo que ele próprio afirma que este é o disco que queria fazer há 30 anos. Pode demorar algum tempo a digerir, mas esta é, sem qualquer sombra de dúvida, da melhor música que se ouvirá este ano.


sobre o autor

Carlos Vieira Pinto

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