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É curioso como um novo álbum lançado de graça e sem promoção prévia pode causar tanto alarido. Quer seja pela inesperada associação à Apple ou pela assunção de que todo o mundo é fã dos U2 e a falta de consideração por qualquer opção para eliminar o disco da colecção digital, a verdade é que despertou uma certa curiosidade em saber o que é que estes veteranos sem nada a provar andam a fazer. E nem é uma curiosidade que se justifique assim muito, visto que fora deste marketing bizarro não há grande novidade no seu conteúdo.
O legado já está construído, os clássicos estão feitos e “War”, “The Joshua Tree” e “Achtung Baby” permanecerão intocáveis, os riscos estão todos tomados e bem tomados em “Zooropa” e “Pop” e desde “All That You Can’t Leave Behind”, álbum de resgate do som mais clássico, que entraram na fase de conforto. Desde então saem registos que, sem necessitar de explodir na cara do ouvinte em surpresas, apresentam força suficiente para agradar e canções bem escritas que cheguem para ir aumentando o repertório de clássicos. Já sem saída dessa fase e sem necessidade da mesma, o disco origina muito mais falatório pelo seu lançamento do que pelo seu conteúdo: acabou por sair mais um álbum “que chega”.
A procura por mais um clássico, mais um tema que encha a cabeça de qualquer um que seja submetido à rádio é automática e involuntária e talvez seja um pouco mais trabalhosa em “Songs of Innocence”. Com o lançamento repentino e gratuito, fica a sensação de barato e até sugere uma compilação de sobras. E se arriscam um lançamento controverso como foi, mais uma vez é por instinto que se procura um risco mínimo no conteúdo. E sai talvez o álbum com mais comodidade que esta banda adaptável já fez. Enquanto “No Line on the Horizon” soa forte, convicto, coerente e completo e apresenta um som devidamente modernizado sem largar o som de marca U2, “Songs of Innocence” soa um pouco ao seu irmão mais preguiçoso. Neste talvez se sinta conforto a mais e a convicção está em que o nome já vale e que, de qualquer forma, está pronto a vender milhões. Mesmo que ainda só tenha sido oferecido.
No entanto, esta enumeração imediata de pecados que se possam encontrar em “Songs of Innocence” não é já algum apedrejamento em praça pública, quando ainda há muita coisa positiva a aproveitar. Mesmo que soe a um dos seus discos mais “seguros”, existe ainda um certo risco a medo de se centrar em canções mais pop em temas como “Volcano”, “Raised by Wolves” ou “Cedarwood Road”, mesmo que esta sequência consecutiva de faixas ocupe apenas uma pequena parte do disco – reaparece perto do fim na mais dançável “This Is Where You Can Reach Me Now”. Mesmo no seu estado mais confortável, existem temas feitos à medida para quem pede um hino à maneira U2 sem necessitar de muitos rodeios para se assemelhar a outros hits de rádio anteriores. Aqui destaca-se o sentido tributo de “The Miracle (Of Joey Ramone)”, “Every Breaking Wave”, “Song for Someone” ou “Sleep Like a Baby Tonight”. E se não conseguiram um fecho tão forte como foi “Cedars of Lebanon” no trabalho anterior, ficam bem perto em “The Troubles” onde se encontra uma das mais interessantes propostas, com uma participação especial de Lykke Li.
Ao fim e ao cabo até acaba por dar em mais um álbum de U2 que até cumpre os seus propósitos. Se dá um sentimento de desvalorizado por ter sido oferecido repentinamente, não é caso para isso. Apenas podem ser necessárias mais algumas audições para deixar que “Songs of Innocence” se instale bem ao lado dos restantes trabalhos da impressionante discografia dos U2. E se os tais riscos muito subtis que tomaram para este disco ou a curiosa produção de Danger Mouse possam causar um encolher de ombros ao mais rígido e exigente ouvinte, tem as coisas no sítio para agradar a um comum fã da banda que apenas pede mais um punhado de canções bem feitas que soem a U2. Sem se tratar de algo que dependesse muito de aclamações, a este ponto atingem o que precisam com um “suficiente”. E se não gostarem podem sempre apagá-lo. Se eles deixarem.