Windhand

Grief’s Infernal Flower
2015 | Relapse Records | Doom, Stoner, Sludge

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Já sabemos o quão bem estabelecidos estão os Windhand com apenas um punhado de anos de actividade e três álbuns no currículo. E já sabemos bem o porquê também, os anteriores discos e o peso avassalador e psicadélico que nos trouxeram justificam toda a aclamação que lhes tem chovido e no espectro mais revivalista que se vive no doom metal actual, a banda costuma ser sempre um dos nomes a considerar. No entanto, nem tudo é bom e por muito que os Windhand continuem a crescer parece que arrastam sempre um nome atrás, naquelas temíveis comparações: Electric Wizard.

É certo que a veterana banda Inglesa é uma referência óbvia, assim como o é para muitas outras bandas, mas tem que se começar a dar valor aos esforços dos Windhand em afastar-se das comparações. Um raro céptico mais purista e negativo até pode olhar para o álbum homónimo e para “Soma” e vê-los como lamentos de desgosto por não terem escrito o “Dopethrone”, mas eles são muito mais que isso. E mesmo que no geral a conotação não seja tão negativa e até se baseie mais no “recomendável a fãs de Electric Wizard”, parece que este novo “Grief’s Infernal Flower” vem resolver esta questão de uma vez por todas e parece emancipar-se de vez.

A própria Dorthia Cottrell, senhora que dá voz aos Windhand, confessou que existe uma abordagem mais rock e mais directa à sonoridade. E pode notar-se um lado melódico mais patente neste disco, sem nunca deixar os belos arrastos daqueles riffs longos e lamacentos a envolver toda aquela melodia e sem alguma vez largar todo o psicadelismo que torna cada canção numa viagem. Isso está sempre lá. Agora pode notar-se mais um foco na voz, que já não se afunda tanto naquele mar de sludge que tão bom ruído faz. Já se sobressai e já orienta as canções para um lado menos caótico sem chegar a aclarar as trevas fumarentas que pairam sobre todo o registo. Há um largo passo em frente para a carismática Dorthia tanto a nível vocal como de songwriter e as provas maiores disso estão nas passagens acústicas de “Sparrow” e da conclusiva “Aition”, que encaixam perfeitamente em todo o percurso deste disco e que tanto contribuem para a sua atmosfera. Porque este não é só um disco de se ouvir, abanar a cabeça a estes senhores riffs e repetir. É dos que se tem que sentir também.

Mas o termo “directo” não pode ser para aqui atirado à toa uma vez que estes temas não se reduzem à simplicidade. Continuam a prevalecer as composições longas e lentas e o habitual apelo instrumental sujo, pesado e atmosférico mantém-se com a mesma familiaridade de sempre, com o riff da introdutória “Two Urns” a conseguir conquistar-nos à primeira. Outro bom exemplo é a imensidão de coisas que se passam em “Hesperus” e “Kingfisher”, duas músicas que juntas atingem os 30 minutos de duração e de onde se destaca o riffalhão da primeira que dá para chorar por mais. Tudo isto é envolvido num manto trippy e de outra dimensão que, apesar de também constituir a receita de muita boa banda que se ande a fazer à vida ultimamente, no caso dos Windhand é feito de forma a que lhes construa uma identidade.

Este álbum continua a ser um estrondo de doom/stoner/sludge psicadélico e arrastado e não tinha porque deixar de o ser. Não alteraram as estruturas das canções e não tinham que o fazer. Não fizeram nenhuma mudança radical que não tinham que fazer. E não, também não abandonaram as influências porque nunca será possível fazê-lo nem há necessidade. Deram os passos subtis certos para construir a sua marca e é nos pormenores que se nota a evolução. E não creio que seja este o pico da sua carreira e o cume do seu crescimento, consigo antever muito mais a sair deste já crescente nome. “Grief’s Infernal Flower” vem para marcar lugar e esclarecer dúvidas. E se veremos sempre os Electric Wizard como os pais dos Windhand, então ao menos que os vejamos como os pais orgulhosos que vêem os filhos a crescer com força e a tornar-se independentes.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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