Within Temptation

Hydra
2014 | Victor Talking Machine Company | Metal

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Os Within Temptation são um bom exemplo de uma banda cuja progressiva mudança se nota a léguas. Os holandeses, liderados por Sharon den Adel, são um exemplo de um acto a tornar-se cada vez mais directo e acessível e se “The Unforgiving” já desiludiu os saudosistas do “Mother Earth”, não vai ser este “Hydra” que lhes vai matar a fome, pois esta fórmula de “pop metal” continua e intensifica-se.

Mas admita-se que eles até o sabem fazer. E se alguns os podem acusar de já não serem um acto tão “pesado”, se quiserem utilizar a palavra, e mais simples… Ninguém os pode acusar de irrelevância. Num género que viu a sua estagnação a chegar tão rapidamente como a sua ascensão e hype, se sobram alguns que conseguem manter a atenção sobre eles, apresentar trabalhos com um mínimo de interesse e até conseguir safar-se nos números respectivos às vendas, é de aclamar. E os Within Temptation são capazes de encabeçar essa cuidada selecção de bandas que mantêm a fasquia alta à sua volta. A pergunta que muitos fazem é se ainda conseguem manter a qualidade.

Ouvindo este “Hydra”, chegamos à conclusão que os dias de “Mother Earth” e até de “The Silent Force” vão longe – nem menciono o “Enter” porque essa estreia ainda é uma procura de identidade. Muitas mudanças mas nada que se possa ver como uma descida de qualidade, mesmo que isto não cheire igual a todos. Se anteriormente eles davam as boas-vindas ao pop como um convidado, este agora está mais que bem instalado e até já manda. Mas desta vez administram mais cuidadosamente a harmonia entre esse lado dócil e o mais pesado, sem recorrer a canções surpreendentemente dançáveis, como havia em “The Unforgiving”. Digamos que soa a uma ponte entre “The Heart of Everything “ e “The Unforgiving”. A fórmula ainda é a básica: temas a girar à volta de um refrão eficaz que prometa ficar armazenado no ouvido por muito tempo, a sobrepor-se em composições de metal sinfónico, género onde o grupo é um dos líderes. E enquanto souberem escrever uma boa melodia viciante e enquanto a voz de Sharon apontar tantos pecados como tem feito até agora – especifique-se, nenhuns – ainda há coisas boas a extrair-se de um disco que siga essa linha.

No que diz respeito a esse factor, há muito a retirar deste conjunto de novas canções. A começar por “Let Us Burn” que nos dá as boas-vindas com força e já nos avisa do que vem dali para a frente. Ainda se conta com “Paradise (What About Us?)”, “And  We Run”, “Covered by Roses” e “Dog Days”, que são alguns exemplos de temas que prometem não nos sair da cabeça tão cedo– mesmo com esta última a recorrer a letras básicas como “One, two, three, four/What are you waiting for?”, algo que não parece muito característico na banda holandesa. Por aqui não parece haver grande risco e olhando para o álbum de modo geral parece que uma outra aposta é a abundância de colaborações.

Em alguns casos, pouco faz além de apenas acrescentar um nome. O ex-Killswitch Engage Howard Jones empresta a sua voz em “Dangerous” e faz pouco mais do que adicionar uma voz masculina sem apresentar algo de realmente especial; “Paradise (What About Us?)” concretiza o desejo molhado de muitos ao juntar as vozes de Sharon den Adel e de Tarja Turunen, para um dueto de Divas que já muitos fantasiaram antes. Com certeza será sempre recordado como um dos principais pontos do disco; Dave Pirner dos Soul Asylum – os da “Runaway Train”, só para o caso de alguém já não se lembrar – surge a fechar o álbum em “Whole World Is Watching” que vem para ser uma nova “Utopia” e não é descabido antever um abundante airplay, semelhante ao do dito single presente no registo acústico que a banda lançou em 2009; Deixo a participação mais curiosa e improvável para o fim: Xzibit. O rapper que muitos também conhecerão do célebre “Pimp My Ride” vem dar um ar da sua graça em “And We Run”. Não há dúvida de que é o tema que mais se estranha neste conjunto de 10 equilibradas canções e apresenta algo que nunca se esperaria na música dos Within Temptation. O curioso: até resulta. E neste ponto em que a banda não apresenta conteúdo muito arriscado e baseia a sua fórmula em canções simples, isto destaca-se e acaba por se tornar uma experiência interessante; fica reconhecido como o maior risco experimentado neste “Hydra”.

De forma geral, é um álbum de Within Temptation que conseguirá satisfazer quem tem acompanhado a banda até agora e que ainda não convencerá quem se ficou pelas alturas do “Mother Earth” ou do “The Silent Force”. Mantém a sua fórmula segura mas sabe distinguir-se do seu antecessor, apresentando-se geralmente como um álbum mais pesado e focado em guitarras e menos sinfónico, enquanto é acompanhado por letras mais mundanas e positivas do que as da obscura história fictícia que “The Unforgiving” contava. E mesmo que se tenham estabelecido numa zona de conforto, ainda conseguem dar um saltinho ao exterior de vez em quando, para não estagnar tanto. É competente e mesmo que não abra as portas a um novo mundo para os Within Temptation, eles sabem bem onde estão e também já devem saber para onde vão.


sobre o autor

Christopher Monteiro

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