#throwback Paredes de Coura: meia década de concertos memoráveis

por Isabel Leirós em 5 Agosto, 2019 © Todas as fotografias neste artigo: Hugo Lima / Festival Paredes de Coura

A evolução dos festivais de Verão nos últimos anos é notável. Transformaram-se em momentos essenciais nas nossas férias, um ritual de reencontro com os amigos, um traço cultural da nossa geração. Vamos em busca de boa música, antes de mais, mas também de um ambiente muito particular e em que se reúnam as condições para fazer um reset. E não é por acaso que o festival minhoto se viu baptizado de #Couraíso: o palco mergulha na verdejante paisagem minhota, as tardes são refrescantes nas margens do Taboão, as horas passam devagar.

Nos últimos anos vi dezenas e dezenas de concertos, novidades e regressos, artistas que o mundo ainda viria a descobrir. Resolvi fazer um exercício de memória e partilhar convosco uma lista de concertos marcantes! Não rebobinei totalmente a fita, fiquei-me pelas últimas 5 edições, meia década portanto. Uma espécie de brinde ao que ainda está por vir. E que o futuro nos reserve muitos e longos anos de boa vida, porque o bom gosto na programação do festival – esse está garantido.

Espreita aqui mais sobre o festival Paredes de Coura »

 

Shame

Shame, 2018

O novo punk britânico tem estado a produzir propostas muito interessantes. Os Shame fazem parte dessa colheita, com a sua energia visceral mas não tóxica. “Songs of Praise” é um monumento (e o disco de que mais gostei no ano passado) que recebeu do público português a veneração que merece. Já tinham passado por Portugal, pela piscina do Milhões de Festa, mas aquele fim de tarde soalheiro em Coura foi magnífico. O vocalista deu tudo, a banda tocou com os chakras alinhados e eu terminei o concerto ainda mais confusa: então não era suposto os punks serem os maus da fita? É que os Shame são uma delícia. (fotografia acima)

Ermo, 2018

“Lo-fi Moda” é um disco essencial na história da música portuguesa. Nunca se fez nada assim. Os moços de Braga mudaram de pele e esconderam-se nas sombras, com máscaras que os uniformizam. É de valor e requer  coragem, já que a indústria vive muito da imagem. Resta-nos pensar sobre esta coisa dos tempos modernos: na era em que a tecnologia prevê o nosso comportamento, em que consumimos as mesmas marcas globais e em que nos expomos ao mundo através de um rectângulo mágico, onde pára a singularidade?

 

Mão Morta, 2017

Foi o concerto dos 25 anos do seminal “Mutantes S.21” e do festival, se querem saber. E que mais dizer sobre o assunto? Foi uma grande festa. Abanámos o corpo ao som de “Budapeste”, conversámos com o Adolfo (ouve a entrevista) e acabámos a noite em «big fun», citando os próprios. Um concerto de Mão Morta deveria ser uma espécie de unidade curricular obrigatória para as bandas portuguesas. (ler mais sobre o concerto)

Kate Tempest, 2017

Palavras metralhadas como nunca vi, nem é bem hip hop, é spoken word. Ou, pelo menos, foi o que me explicaram. Não sou propriamente consumidora do género, mas confesso-me conquistada pela Tempest. Girl power do novo milénio mesmo isto:

Japandroids, 2017

Aqui está a perfeita evidência de que uma personalidade carismática nos pode levar longe na vida. Dois meses antes de Coura, os canadianos tocaram no Primavera Sound do Porto e eu não os vi. Apesar disso, não estavam na minha lista de intenções para Agosto. Depois de uma conversa com os dois amigões fiquei de tal forma rendida, que alterou a minha percepção sobre a banda (lê a entrevista). Afinal, quem nunca sonhou ter uma cena com aquele grande amigalhaço lá do bairro? Os Japandroids são a prova de que os sonhos se concretizam.

Jambinai​, 2017

Os sul-coreanos são, para mim, incontornáveis. E hão-de sempre estar na minha lista de melhores concertos do ano. O prog-rock encontra-se com os instrumentos mais tradicionais do seu país, num aparato visual e sonoro único, como tão bem enquadram [nesta] entrevista. (ler mais sobre o concerto)

LCD Soundsystem, 2016

Num ano em que não consegui estar no festival, dei uma volta ao bilhar grande só para vir a este concerto.  Afinal, a banda tinha abandonado de vez os palcos e esta tour marcou o regresso, para felicidade/descontentamento dos fãs – muitos sentiram-se enganados. Foi bom. Não foooooiiiiiii assiiiiiimmmmm incrííííível. Pelo menos para mim. Souberam dar uma grande festa, já podem sair da minha bucket list. Calma, eu curto muito LCD Soundsystem. Mas em formato single, uma faixa de cada vez, uma música na playlist. Mais que 60 minutos, começam a aborrecer-me. Ainda assim, valeu a ida a Coura. Ou nem estariam neste artigo. (lê sobre o concerto)

Iceage, 2015

Se vem lá do norte, eu gosto. Se é punk rock, contem comigo. Que caos bonito, nunca desiludem. Obrigada, Iceage. Voltem sempre. Gostamos de parecer putos de 20 anos revoltados com a vida, apesar desta felicidade imensa que vocês nos proporcionam.

Father John Misty, 2015

Não era cabeça de cartaz mas roubou as atenções. O Honeybear promovia um disco diferente do trabalho anterior, mas que o confirmava nesta nova fase de carreira. O country ficava para trás e o sedutor cantautor aqueceu a noite de Coura. Uma nova persona muito dada ao drama, como se nota pela pose que o Hugo Lima fotografou:

Kurt Vile, 2014

«Só se vê cabelo», comentou alguém (ok, talvez tenha sido eu). Mas Kurt Vile é mais que aquela figura sexy dos anúncios Panténe. Trazia na bagagem dois importantes discos na história da música moderna – “Smoke ring for my halo” e “Wakin on a pretty daze”. Lo-fi e folk que recuperam a magia de outras eras, uma voz capaz de transformar a vida quotidiana em poesia.

Goat, 2014

Suecos da world music, imaginem só. Transformaram o palco dito secundário, a tenda, numa grande festa tal como já haviam feito no Milhões de Festa. Exóticos q.b., escondem-se em máscaras tribais e elevam os sentidos. Ilustram e muito bem este artigo. (entrevista aos Goat)

Sensible Soccers, 2014

É sempre um gosto estar com os Sensible Soccers, mas este concerto foi particularmente prazeroso. O viral “Sofrendo por você” e o monumental disco “8” abriram as asas em palco e fizeram-nos voar. E não esqueceram a “Guarani”, esse sublime tema – até ver – nunca editado em disco ou single.

 


sobre o autor

Isabel Leirós

"Oh, there is thunder in our hearts" (Ver mais artigos)

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