Vodafone Paredes de Coura 2022: Contas Finais

por José V. Raposo em 4 Setembro, 2022 © Turnstile/foto: Hugo Lima - https://www.facebook.com/HugoLimaPhotography

Num ano que marca (esperemos, fazendo figas gigantes) o regresso definitivo à normalidade, voltar a Paredes de Coura foi a cereja no topo do bolo no que a prazeres melómanos roubados pela pandemia diz respeito. Rever amigos, cumprir as tradições que já vêm de há vários anos (e que mais nenhum festival dito grande tem), levar com alguma chuva em cima e, sobretudo, voltar a ver música ao vivo num local propício para o efeito – e escrever umas coisas sobre isso.

Foi penoso passar os Verões de 2020 e 2021 a rever fotografias, vídeos e publicações nas redes sociais e a rememorar (mais a remoer) sobre um sítio e um evento que parecia que tinham ficado a milhões de anos e de quilómetros de distância, inacessíveis e à mercê da incerteza dos tempos.

Coura é dos sítios que, como diria Jack London, nos leva a viver e não a existir. Exemplo máximo disso este ano foram os Turnstile e os Parquet Courts, numa sequência como o festival raramente viu (e já viu MUITA coisa em quase três décadas), mas também os BADBADNOTGOOD a regressarem onde já foram felizes, Kelly Lee Owens e os Idles a domarem milhares de pessoas ou, no palco secundário, os Molchat Doma, Ata Kak e sua banda, Tommy Cash, Viagra Boys, The Murder Capital e os “nossos” Paraguaii e Gator, The Alligator a darem alegria à torcida. E, num piscar de olhos à própria História do festival, Sam The Kid muitíssimo bem acompanhado por Orelha Negra e por uma orquestra, os Linda Martini (a somarem mais um campeonato) e os Pixies demonstraram o porquê de serem instituições da música popular dos respectivos países.

Algumas coisas podem ficar na edição deste ano, sendo que uma delas é, infelizmente, endémica. Furar quando o público já está compacto para desistir do concerto minutos depois é no mínimo incomodativo e no máximo algo digno de idiotas, sobretudo se envergarem a horrenda moda recente do meio mullet, meio crista; parecer um lorpa dispensado de um clube de terceira divisão de oitentas e ter uma atitude de otário que não sabe ao que vai é perfeitamente dispensável. No caso do problema endémico, é mesmo este: falatório, sobretudo de nuestros hermanos, durante os concertos. Por alguma razão não são ustedes em cima do palco e alegria de viver não é incomodar os outros.

Neste cruzamento de nostalgia e reencontro (veja-se a foto que ilustra este artigo) ficou-se de alma cheia e restaurou-se a devoção pelo festival, pelo local e por aqueles que connosco partilharam aqueles dias – isto sem contar com a saudade dos que não puderam ir. Há sempre o ano que vem.

Oremos agora por um cartaz digno para os trinta anos do festival e comecemos a contagem decrescente para os dias 16 a 19 de Agosto de 2023. Haja saúde, tempo, dinheiro e, atenta a situação internacional, paz. E GPSS no Xapas, claro.

E haja também amor à causa porque, conforme os dizeres de um dos grandes desta vida inscritos num banco de jardim no recinto, Paredes de Coura não é um amor de Verão.

Seguem as contas finais desta edição.

i) CAMPEÕES PAREDES DE COURA 2022: Turnstile; Parquet Courts; The Murder Capital; Molchat Doma; Paraguaii; Tommy Cash; Kelly Lee Owens; Pixies; Idles; Sam The Kid & Orelha Negra com orquestra; Gator, The Alligator; Baleia Baleia Baleia; Ata Kak Live Band; Linda Martini; Rita Vian; Donny Benét; Yves Tumor & Its Band; Perfume Genius; Viagra Boys; The Comet Is Coming; BADBADNOTGOOD;

ii) Menções honrosas: Xenia Rubinos; Surprise Chef; Porridge Radio; Arlo Parks; Samuel Úria; Conjunto Corona; Mão Morta;

iii) Tivemos pena de ter perdido: John Talabot; Chão Maior; Mall Grab; Arp Frique & Family; Bruno Pernadas; Club Makumba;

iv) Palavras e expressões do festival: “SIUUUUUUUM”; “salpicão!”; “O que é que nos faz feliz? Uma garrafa de Cabriz!”;

v) Queremos ver no Couraíso: Yard Act; Bob Mould; Fontaines D.C.; Pissed Jeans; The Armed; The Chisel; Bad Breeding; Binker & Moses; Chico da Tina; Ducks Ltd.; Black Country, New Road; PUP; GPSS; Chat Pile; Cola; Denzel Curry; dälek; Destroyer; Wrecking Crew; Action Bronson; Gard Nilssen Acoustic Authority; High Pulp; Just Mustard; Yonatan Gat com Medicine Singers; OFF!; Otoboke Beaver; Penza Penza; River Whyless; Snapped Ankles; Touccan; Old Jerusalem; Wovenhand.

Foi bonita a festa pós-pandémica, pá. Até para o ano.


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José V. Raposo

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