//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Trinta anos de Vodafone Paredes de Coura. O sacana do tempo voa e este é o mais antigo festival grande em actividade contínua em Portugal; pode não ter começado logo com a dimensão de um Super Bock Super Rock, mas sobreviveu e cresceu neste trinténio com muitas peripécias e dificuldades – e música boa a dar com um pau. Bandas que ali apareceram pela primeira vez por cá e outras que por ali cresceram, outras que muito prometiam mas que nunca mais deram de si e outras que são clássicos do festival. E, bom, o cartaz deste ano foi mais um que honra o melhor anfiteatro natural do País para ver música ao vivo.
Para além dos concertos, o cheiro da relva molhada pela chuva, os petiscos no Loureiro (e a rádio rock galega cuja lista de reprodução dá para acertar o relógio), a reunião anual com os amigos, as tradições que só em Paredes de Coura se tem (este ano não houve baixas causadas pelo chili) e os dez anos de GPSS no Xapas formaram matéria factual digna de registo. E, obviamente, as paisagens do recinto e redondezas, que teimam em não nos cansar a vista.
Aquilo que em muitos festivais se torna insuportável em Coura é minimamente tolerável. As relações de há décadas que várias bandas mantêm com o certame não têm paralelo com os demais festivais grandes nacionais – para tal, veja-se o caso de Mão Morta. A suposta quebra no número de espectadores talvez não seja grande notícia para a organização e patrocinadores mas, para quem lá esteve, o precioso espaço de manobra (em especial à chuva) garantiu qualidade de vida a quem marcou presença.
As críticas à composição do cartaz não fazem grande sentido, salvo numa óptica de trazer cabeças-de-cartaz capazes de esgotar o recinto – mesmo assim, com uma Jessie Ware, uns Walkmen, uns Wilco e uma Lorde era mais do que possível ter lotação esgotada. Poder-se-ia falar em condições estruturais de Coura, da concorrência de outros festivais e de constrangimentos financeiros dos espectadores, mas também se pode falar no gosto limitado do indiegenato nacional.
A variedade dos cartazes mais recentes de Coura tem sido a sua principal força e é a recomendável identidade do festival. Ausência de nomes maiores? Não nos parece.
Como edição, foi uma festa de anos memorável. O fim de hiato dos Walkmen comemorado no anfiteatro natural, o festão dos prazeres pop de Jessie Ware, as doutas prelecções de Yo La Tengo e Wilco, a iconoclastia de Little Simz, a promoção dos putos xarilas black midi ao palco principal, a jarda gabber de Ascendant Vierge, a revelação de Expresso Transatlântico e o estoiro histórico dos Les Savy Fav. Tudo isto sem esquecer o afrobeat de Kokoroko, a quota shoegaze de Julie, a antologia de um grande álbum de post-rock de Explosions in the Sky, o cavalheirismo bem estudado de Lee Fields e a pop desconstrutiva de Fever Ray.
Tão importante quanto a música foram as memórias criadas e o regresso aonde se vai construindo um percurso pessoal. Depois de um 2022 chuvoso e com mais um dia de festival, em 2023 voltaram as noites de vila, o grande ponto de (re)encontro de amigos, de sets e setas no Xapas, de postas na grelha, de farturas, de pastéis de bacalhau no Café do Pi às duas da manhã e da antecipação e planeamento dos quatro dias seguintes e de relembrança dos anos anteriores.
A quem foi: abram uma garrafa de Cabriz. A quem não foi: há sempre o ano que vem.
Resta-nos começar a contar o tempo que falta até aos dias 14 a 17 de Agosto de 2024, que Coura não é um amor de Verão. É de todo o ano. E, pelo andar da carruagem, de pelo menos metade da vida.
Seguem as contas finais desta edição.
i) CAMPEÕES PAREDES DE COURA 2023: Les Savy Fav (e os seguranças que seguraram no cabo do microfone); Wilco; Little Simz; Yo La Tengo; black midi; The Walkmen; Ascendant Vierge; Lee Fields; Kokoroko; Explosions in the Sky; Julie; Expresso Transatlântico; Bicep; Jessie Ware; Squid; Thus Love; The Brian Jonestown Massacre.
ii) Menções honrosas: Dry Cleaning; Yung Lean; Máquina; Sleaford Mods; Avalon Emerson & The Charm;
iii) Tivemos pena de ter perdido: Indignu; MADMADMAD; Kenny Beats;
iv) Palavras e expressões do festival: “Boa tarde, meus consagrados.”; “DJ K não ’tá mais produzindo, ’tá fazendo bruxaria”; “voto na AD mas é merda“; “o padre morreu, a missa acabou”; “Hacendado”;
v) Queremos ver/rever no Couraíso: Chat Pile; Fontaines D.C.; Terebentina; Boucabaca; Polvo; Bob Mould; Black Country, New Road; OFF!; DJ K; DJ RaMeMeS; Anna St. Louis; Mega Bog; Brian Dunne; Dommengang; The Spirit of the Beehive; Geese; Grails; Joshua Ray Walker; Hetta; King Doudou; Lanterns on the Lake; The Tubs; Lifeguard; Maruja; The Nude Party; Pedro Ricardo; Pissed Jeans; Protomartyr; Mdou Moctar; Denzel Curry; Ratboys; Rose City Band; Horse Lords; Expresso Transatlântico (promovidos ao palco principal); Swans; Wednesday; Alfa Mist; Xylouris White; Gume; Nick Cave and the Bad Seeds; 100 gecs.
Os trinta assentaram muitíssimo bem a Paredes de Coura. Até para o ano.