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O último mês do ano cinematográfico fica sempre definido pela lista dos melhores filmes do ano. Todos os jornais compilam, todas as revistas oferecem e até webzines com maior ou menor grau de arraso colocam o link respectivo para que o leitor-espectador tenha oportunidade de chamar nomes a pessoas que na sabedoria dos seus gostos decidiram não citar aquela obra cinematográfica que é para si a superlativa e foi esquecida. O Dez Takes deste mês não é essa lista. No espírito de nostalgia que nos atinge sempre no final de cada volta solar, o que propomos é um olhar por alguns dos melhores trailers de 2017.
No fundo, um trailer é um pouco como os começos de ano: promessas vagas do que pode acontecer, expectativas positivas que invariavelmente nunca se confirmam e nos deixam sempre aguados sem concretização. Ricas coisas.
É sobre elas o Dez Takes de Dezembro. Os filmes prometidos podem não ser necessariamente os melhores, mas caramba, naqueles dois minutos e meio, alcançaram o grau de épico para lá de tudo. Malditos departamentos de marketing!
O Deus nórdico de Chris Hemsworth sempre foi o parente pobre dos filmes individuais da Marvel e a necessidade de uma reinvenção era evidente. Chame-se Taika Waititi para o delírio completo.
O primeiro teaser do filme vira o Thor que conhecíamos completamente ao contrário: fora com o cabelo curto, a capa, o martelo e a armadura. Asgard está em pantanas e o divino dos trovões ri. É o melhor cartão de visita possível para aquilo que Thor: Ragnarok propõe: virar tudo do avesso e recriar uma franchise adormecida.
He’s a friend from work deve ter sido uma das frases mais citadas do ano cinematográfico. E com “The Immigrant Song” dos Led Zeppelin a martelar em constância – Come from the land of the ice and snow… – como não?
Como convencer alguém a ver um filme sobre uma patinadora no gelo? Ora, transformá-lo num cruzamento entre David Lynch e Martin Scorsese, ora.
Tudo é extremo: uma mãe elevada a monstro, uma personagem principal com um controlo muito ténue da realidade e uma verdade que se multiplica. O modo é biográfico, mas depois de litros e litros de Listerine em via intra-venosa. Eis como convencer o mais curioso dos cinéfilos a ver o que seria à partida o mais corriqueiro dos filmes.
Vender um quase-documentário polaco sobre a vida adolescente só parece difícil antes de ver este trailer. Capturando em menos de dois minutos a agressividade, irreverência e liberdade ilusória que caracteriza a adolescência dissoluta e vivida em quinta mudança, faz-nos esquecer de quase todos os preconceitos que possamos ter contra o género e a origem do filme – é universal.
Como o filme, é uma festa constante, cada imagem uma celebração efusiva da juventude, pequenos momentos, o prazer e o hedonismo total de quem ainda não é adulto. Tudo ao som de “Can’t Do Without You”, dos Caribou.
É amor, mas pela vida, e a mensagem principal do filme de Michal Marczak.
O mais recente filme de Edgar Wright é acima de tudo uma coisa – cool. E se o trailer norte-americano não capta exactamente o sentido de ritmo da proposta do britânico (carros + música= Gene Kelly casa com Walter Hill), tem muito de cool para oferecer, desde a rapidez de metralhadora dos diálogos até à amostra dos bailados automóveis que preenchem as grandes cenas de acção do filme.
Transmite o mesmo sentido de urgência do drama da personagem principal, navegando ao sabor do trabalho de câmara virtuoso de Wright, e automaticamente coloca o espectador no estado mental perfeito necessário para se apreciar este filme.
Convencer os espectadores a abraçar os mundos neo-góticos de Guillermo del Toro não tem sido tarefa fácil. No entanto, o trailer para o seu último The Shape of Water é um tiro certeiro aos corações empedernidos.
Começa como um conto de fadas da banalidade, mas rapidamente estabelece os arquétipos de histórias de encantar tão ao gosto deltoriano: o vilão terrível, o monstro incompreendido, a princesa aguerrida; e a delícia e sensibilidade com que as suas ideias são tratadas aqui vende um dos mais estranhos romances do ano como algo que não só é aceitável, mas transcendente.
O cinema é sobre ligação entre a imagem e o espectador. Aqui, uma e outra dançam ao som de “La Javanaise”, de Madeleyne Peyroux numa corda bamba que suspira de um coração.
O trailer de It Comes At Night foi talvez o mais falado no género de horror este ano; mas o teaser da segunda obra de Trey Edward Shultts é um mimo. Conta pouco sobre a história do filme, mas é um portento de imagética carregada, de sombra, de paranóia e torna a ideia de exterior como a mais horripilante e assustadora desde o tempo em que o escuro do quarto nos assustava enquanto crianças.
Uma porta aberta torna-se automaticamente tão proibitiva quanto tocar-lhe e o ritmo das imagens entra pelos olhos e desconcerta todo o resto do corpo. Sem que o medo se corporize numa forma monstruosa. Apenas faces humanas.
Basta que Blade Runner 2049 seja, talvez, o mais visualmente belo trailer do ano, capaz de dar segurança a todos aqueles que temiam que uma sequela de um filme que passava bem sem ela e lhes estragasse o encanto de uma paixão nostálgica.
Dennis Villeneuve e Roger Deakins seguram na mão do espectador, dão uma palmadinha nas costas e sossegam: nada temam, por agora.
Caso ainda não tenham reparado, já vamos no terceiro filme da companhia A24 nesta lista.
Enquanto que “All These Sleepless Nights” é um concentrado da juventude, aqui tudo é visto do ponto de vista de uma criança e vende um filme independente aparentemente deprimente acerca de uma mãe solteira criando uma filha nos subúrbios da Florida numa experiência de alegria, cor, luz, esperança e tudo o que mais é bom.
O truque está em deixar que as crianças nos expliquem o mundo e se bem que o truque é muito pouco subtil, resulta de caramba.
Vai direito ao que interessa rapidamente: o umbiguismo e dependência das redes sociais, a projecção da imagem de sucesso e gente que não bate bem da pinha.
O que se segue é um assalto aos sentidos em néon, batida e comportamentos socialmente pouco aceitáveis. “Anything else I need to know about Ingrid?”. Depois deste trailer, bastante mesmo.
Para terminar um filme que ainda não estreou, mas foi directamente para a minha lista por dois motivos – é protagonizada pela minha passada futura mulher e esta apresentação é um portento distópico e pesado de coisas boas.
Natalie Portman parece tão perdida e dormente em simultâneo que a impressão que fica é de uma ficção científica onde o mundo foi subjugado por qualquer coisa de inominável, mas nem se importa muito com isso. As imagens estão cheia de questões e subentendidos e o espectador fica com elas e só pode ficar saciado quando o filme estrear.
É para isto que servem os bons trailers.